A professora catedrática do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, Maria do Rosário Martins, recebeu esta terça-feira (7 de julho) na Assembleia da República, a Medalha de Ouro Comemorativa do 50º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, “pelo seu trabalho de coordenação no primeiro estudo comparativo em Portugal sobre as consequências da Covid-19 em famílias imigrantes e de nacionalidade portuguesa no concelho da Amadora“.
“Quando a COVID-19 surgiu falou-se de um vírus democrático mas sabemos hoje que a pandemia está a fustigar de forma desproporcional as populações mais vulneráveis como é o caso dos migrantes”, sublinhou. “Estudos recentes mostram que na Europa os migrantes, sobretudo oriundos de países de baixa renda têm maior probabilidade de serem infetados pelo SARS-Cov-2, apresentam maior gravidade da doença e em alguns países têm também maior probabilidade de falecer, mesmo ajustando a outros fatores”, acrescentou Maria do Rosário Martins no discurso efetuado na Cerimónia de Entrega do Prémio Direitos Humanos 2020 (assista aqui), que decorreu na Assembleia da República.
A professora da Unidade de Saúde Pública e Bioestatística do IHMT-NOVA sublinhou também que as desigualdades são ainda maiores se atentarmos nos efeitos sociais e económicos da crise pandémica. No que respeita a estes efeitos indiretos o estudo premiado, em que foram acompanhadas, desde o ano de 2019, 420 famílias nativas e imigrantes, sobretudo da CPLP, residentes na Amadora, mostrou que os imigrantes foram os mais penalizados em termos económicos e sociais, tendo também demonstrado dificuldades acrescidas no acesso aos cuidados de saúde durante a pandemia.
“A literatura é unânime em todos os países a pandemia exacerbou as disparidades sociais e económicas já existentes” e “se nada for feito, as desigualdades vão amplificar-se, criando uma sociedade mais injusta, onde será difícil que prevaleçam os direitos humanos”, alertou Maria do Rosário Martins.
“Dedico esta medalha a todas as famílias migrantes no mundo, que em tempos de pandemia estiveram ainda mais distantes dos seus, muitas vezes isoladas numa sociedade que em geral lhes é desfavorável”, concluiu.
A intervenção de Maria do Rosário Martins foi efetuada no âmbito da Cerimónia de Entrega do Prémio Direito Humanos 2020 atribuído simbolicamente a todos os profissionais de saúde, pelo “generalizado reconhecimento e agradecimento, pela forma abnegada e incansável como se têm batido no tratamento e na defesa da dignidade humana, e da própria vida, dos milhares de cidadãs e cidadãos atingidos pela doença pandémica COVID-19”.
A distinção foi entregue à Convenção Nacional de Saúde, – plataforma permanente de diálogo que reúne uma centena de entidades, públicas, privadas e sociais, e mais de meia centena de associações representativas de utentes de cuidados de saúde – que representa todos os profissionais de saúde.
Para além de Maria do Rosário Martins, foram também entregues Medalhas de Ouro Comemorativas do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos a Elvira Fortunato, pelo projeto “Eco2Covid – Desenvolvimento de plataformas de deteção e monitorização em águas do Coronavírus” e a David Rodrigues pelo contributo para a causa da educação inclusiva, como responsável pela Associação Pró-Inclusão – Associação Nacional de Docentes de Educação Especial.