Uma equipa da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e outra do IHMT juntaram-se com o objetivo comum de desenvolver uma nova formulação – menos tóxica e mais eficaz – do Benznidazol, um medicamento utilizado para combater a Doença de Chagas, uma patologia negligenciada, causada pelo parasita Trypanosoma cruzi e que atinge sete a oito milhões de pessoas em todo o mundo, em particular na América Latina.
A resposta a esta necessidade surge na forma de uma nano-formulação (partículas microscópicas que contêm o fármaco e que, devido à sua dimensão, são mais facilmente transportadas pela corrente sanguínea, aumentando a possibilidade do fármaco encontrar as células infetadas), que está agora a ser testada no âmbito deste projeto colaborativo.
“A nano-formulação poderá, não só permitir o tratamento eficaz da doença, mas também a identificação de novas formulações tanto para adulto como crianças, podendo apresentar baixa ou nenhuma atividade tóxica”, explica o investigador da FIOCRUZ, Rodrigo Corrêa-Oliveira. Já para o ponto focal do IHMT, o investigador Marcelo Silva, este projeto poderá democratizar o acesso ao tratamento “melhorando a disponibilidade, a tolerabilidade e a atividade farmacológica”, já que atualmente apenas 30% do Benznidazol apresenta efeito terapêutico.
A parceria entre o IHMT e a FIOCRUZ consiste “em testar, tanto in vitro como in vivo, as formulações que serão desenvolvidas pelos parceiros da indústria farmacêutica e avaliar vários dos aspetos relacionados a imunopatologia da doença”, afirma Rodrigo Corrêa-Oliveira. Foi estabelecido, com a cooperação da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais, o modelo murinho e canino específicos para este estudo. Enquanto o IHMT vai avaliar as novas formulações na fase aguda da doença, utilizando ratinhos de laboratório (modelo murinho), a FIOCRUZ avaliará, com recurso ao modelo canino, a sua eficácia na fase crónica. Se tudo correr como esperado, seguir-se-ão os ensaios clínicos em humanos, a realizar em Barcelona.
Se para o investigador da FIOCRUZ, o IHMT é um “parceiro estratégico para este projeto”, pois “possui um corpo científico de alta qualidade e competência”, desenvolvendo um “screening rápido, in vitro, das novas formulações economizando tempo, diminuindo o número de ensaios em animais”, para Marcelo Silva, o IHMT tem muito a ganhar com a grande experiência da FIOCRUZ na Doença de Chagas, seja a nível “do controlo vetorial e na compreensão dos mecanismos de interação entre parasita e hospedeiro, seja no desenvolvimento de novos fármacos”. De referir que a Doença de Chagas foi descrita, pela primeira vez, pelo cientista brasileiro Carlos Chagas, em 1909.
Rodrigo Corrêa-Oliveira acredita que os resultados deste projeto poderão ser fundamentais para “criar credibilidade entre os grupos parceiros, identificar novas perguntas de interesse comum, bem como novos parceiros em outras áreas da medicina tropical”. Já o investigador do IHMT acrescenta que Portugal poderá fazer a ponte entre o Brasil e a Europa e os PALOP, e mostra o desejo de estreitar ainda mais as relações com a FIOCRUZ, em particular na área do desenvolvimento de fármacos e vacinas. “Há uma grande mais-valia em o IHMT aprender com essa experiência que a FIOCRUZ já tem”, conclui Marcelo Silva.