Hoje é o Dia Mundial da Saúde. Mas celebrar a saúde em tempo de Covid-19 pode ser uma oportunidade única. É mais fácil fazê-lo em tempos de não crise, embora a ausência ou a pouca saúde estejam sempre presentes algures. Mas sendo mais difícil agora é mais estimulante, especialmente nas circunstâncias atuais em que o isolamento forçado nos permite refletir melhor, trocar ideias à distância. O risco de epidemias é atualmente bem maior neste mundo global, em grande parte pelas alterações ambientais por nós provocadas, nomeadamente no habitat dos animais selvagens. Também pelas grandes concentrações populacionais urbanas, viagens de todo o tipo (negócios, turismo, encontros científicos) e pela vida social em espaços confinados ou eventos de grande dimensão.
Aprendemos desde já com esta epidemia da necessidade de estudo dos reservatórios naturais vivos, da preparação prévia de modelos de contenção e mitigação com atenção às condições económicas, sociais, demográficas e culturais, sem os quais corremos o risco de numa próxima adotarmos medidas que não sabemos se são as mais adequadas.
Desde há muito se sabe que a quantidade da informação que nos chega, muitas vezes não fidedigna não nos dá tempo para a digerir adequadamente, correndo-se o risco de sermos acríticos e nestes tempos “on line” a difundirmos causando emoções, fúrias, ódios e perceções erradas de tudo e de todos que só nos podem prejudicar.
Não queremos deixar de mencionar que não nos podemos esquecer dos restantes problemas de saúde. A ausência ou inadequação dos cuidados de saúde em relação a outras doenças reflete-se em maior morbilidade e mortalidade. Também os serviços de saúde, muitas vezes precários, principalmente desde a crise de 2008, entrarão em falência muito rapidamente, sendo que se deve especial atenção aos cuidados de saúde primários. O IHMT, ciente do interesse de todos os Estados Membros no apoio ao desenvolvimentos dos Cuidados de Saúde Primários, como pilar essencial das estruturas de saúde e na qualidade de Entidade Assessora da CPLP propôs a organização de um Seminário de Desenvolvimento dos CSP a realizar em Luanda. A relevância desta primeira iniciativa foi fortalecida pela posição dos Ministros da Saúde na última reunião de Lisboa.
A situação nos sistemas de saúde é tão mais preocupante quanto, sendo levados até ao seu limite nesta fase, ainda se corre depois o risco da inevitável crise económica dificultar a sua recuperação. Além disso, é de se contar com uma segunda fase da epidemia e que os problemas económicos e sociais subsequentes possam afetar a saúde de muitos indivíduos.
Finalmente, manifestamos a nossa preocupação com o desenvolvimento desta pandemia no hemisfério sul, começando a expandir-se já em países em que os recursos económicos e técnicos são insuficientes para o seu combate e em que as medidas de bloqueio adotadas em outros países irão afetar a simples subsistência de muitas famílias.
De acordo com a sua missão e com as suas capacidades, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical estará sempre disponível para prestar toda a colaboração aos sistemas de controlo de epidemia e cuidados de saúde nos países irmãos da CPLP.
Num momento de grande preocupação e solidão como este, não esqueçamos todos os progressos que a humanidade no seu conjunto e cada vez mais interligada tem alcançado na área da saúde nas últimas décadas. Pensemos o que era então a saúde no mundo à data do grande marco que foi a Declaração da Alma-Ata.
Para todos e apesar de tudo, um bom dia nacional da saúde.
Autores:
Subdiretora do IHMT NOVA Filomena Pereira
Conselho de gestão do IHMT NOVA