O Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade NOVA de Lisboa (IHMT NOVA), através do GHTM – Global Health and Tropical Medicine, e por intermédio do Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para as Políticas e Planeamento da Força de Trabalho em Saúde, coordenou o primeiro estudo nacional sobre a satisfação e retenção de profissionais de medicina e enfermagem em Portugal, abrangendo os setores público (SNS) e privado. O estudo foi hoje publicado pelo PLANAPP – Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva da Administração Pública, no âmbito das atividades de apoio à definição de políticas públicas na área da saúde.
O estudo foi conduzido pelo Prof. Doutor Tiago Correia, juntamente com a Doutora Rita Morais e o Doutor André Beja, do GHTM | IHMT NOVA, e contou com o apoio de uma vasta rede de especialistas e instituições do setor da saúde. Este trabalho constitui um marco importante para compreender as dinâmicas atuais da força de trabalho em saúde no país, com destaque para os fatores que influenciam a satisfação profissional, a permanência no setor e o risco de burnout. Os dados agora divulgados oferecem uma perspetiva abrangente e atualizada sobre a realidade vivida por médicos e enfermeiros em diferentes contextos profissionais e regionais.
Entre as principais conclusões do estudo, destaca-se que os níveis de satisfação dos profissionais de saúde são, em geral, moderados, com variações significativas consoante o setor, a região e o tipo de unidade de prestação de cuidados. No caso do SNS, são identificados sinais claros de insatisfação associados a fatores como remuneração, progressão na carreira e formação. Ainda assim, a relação nas equipas de trabalho, as condições laborais e o acesso a recursos tecnológicos revelam-se determinantes para o bem-estar dos profissionais.
O estudo revela também uma associação consistente entre insatisfação profissional e exaustão extrema (burnout), sobretudo entre os profissionais mais jovens, com múltiplos vínculos laborais, turnos rotativos e elevadas responsabilidades familiares. Esta exaustão representa um risco relevante para a retenção de médicos e enfermeiros no SNS.
Quanto aos motivos que levam os profissionais a permanecer ou a sair do SNS, o relatório indica que o salário, embora relevante, não é o único fator determinante. O reconhecimento profissional, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, a estabilidade nas condições de trabalho e as oportunidades de desenvolvimento e progressão na carreira são igualmente valorizados.
Regionalmente, os dados mostram que a insatisfação entre médicos é mais pronunciada nas regiões do Algarve e de Lisboa e Vale do Tejo, enquanto entre os enfermeiros é no Norte que se verifica maior descontentamento. A satisfação também varia consoante o tipo de unidade, sendo mais baixa em ambientes hospitalares quando comparados com os cuidados de saúde primários.
Perante estes resultados, os autores defendem a necessidade urgente de implementar sistemas de monitorização contínua da satisfação e da retenção dos profissionais, de valorizar as carreiras com incentivos adequados, de promover programas de apoio à saúde mental e de regulamentar o regime de exclusividade, combatendo o multiemprego. Adicionalmente, é essencial criar condições para o desenvolvimento profissional e para o reconhecimento do mérito.
O IHMT NOVA felicita os autores pela liderança e qualidade científica deste estudo, que representa um contributo estratégico para o fortalecimento das políticas públicas na área dos recursos humanos em saúde, e um passo importante para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde e a melhoria da qualidade dos cuidados em Portugal.