“A Literacia em Saúde é um ativo essencial para o exercício da cidadania em saúde, para garantir o acesso a cuidados de saúde e a adesão ao plano terapêutico, em qualquer sistema de saúde.” Quem o afirmou foi Inês Fronteira, professora da Unidade de Saúde Internacional e Bioestatística e uma das organizadoras da conferência intitulada “Literacia em Saúde e Acesso aos cuidados de Saúde nos Homens – Desafios e Oportunidades em Saúde Global”. Com o objetivo de refletir sobre a importância de compreender e utilizar de forma adequada a informação sobre e em saúde, a iniciativa decorreu hoje, 11 de fevereiro, no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa.
A conferência surgiu no âmbito de um projeto de investigação que envolve uma colaboração entre o Instituto de Higiene e Medicina Tropical, o Instituto de Saúde e Desenvolvimento Global da Universidade Queen Margaret e o Instituto Moçambicano de Educação e Pesquisa em Saúde. Trata-se de um projeto alargado que visa avaliar a literacia em saúde e o comportamento de procura de cuidados de saúde por parte dos homens moçambicanos com infeção por HIV e que têm também uma doença cardiovascular.
“Numa perspetiva de explorar aquilo que se entende por literacia em saúde e identificar as diferentes componentes da literacia em saúde, pretendemos com esta conferência primeiro dar a conhecer o projecto à comunidade do IHMT e, segundo, reunir alguns peritos que nos ajudem a refletir sobre assuntos como: o que é a literacia em saúde, se a literacia em saúde faz sentido, se tem componentes diferentes em países de média e baixa renda e, mais especificamente, em países subsaarianos, e nos homens em particular”, explicou a investigadora.
“Ter informação não significa necessariamente que as pessoas sejam mais conhecedoras. É importante que saibam utilizar esse conhecimento em seu benefício.”
Abordando os próximos passos a dar rumo ao aumento da literacia em saúde na população a nível global, Inês Fronteira salientou que o grande desafio da atualidade prende-se com a necessidade de obter “informação de qualidade e fiável”. “Em tempos, a questão era muito relacionada com a informação e a disponibilização dessa infomação, contudo, agora, existe um deficit de informação de qualidade e fiável”. Para colmatar esta necessidade, destacou o esforço por parte da Direcção-Geral da Saúde a este nível, nomeadamente “no desenvolvimento de conteúdos fiáveis, disponibilizados no portal do programa SNS24 que inclui um motor de busca”.
Na opinião da especialista importa ainda relevar o desenvolvimento do espírito crítico por parte da população, de forma a que “as pessoas usem a informação de acordo com as suas necessidades, tendo já algum conhecimento sobre a qualidade dessa informação”. “Não basta ter acesso a informação, é necessário ter acesso a informação de qualidade e ser capaz de reconhecer ou, mais uma vez, de ter literacia para procurar as fontes e perceber se aquela informação é ou não fiável”.
A equipa do projeto, juntamente com alguns dos peritos presentes, vai dar continuidade aos trabalhos amanhã, dia 12 de fevereiro, com o objetivo de “desenhar o quadro conceptual para medir literacia em saúde em contextos de mais fragilidade dos sistemas sociais, dos sistemas de informação e de todos os determinantes da saúde que são os determinantes da saúde global, e que vão afetar os comportamentos de literacia em saúde”, concluiu Inês Fronteira.