José Manuel Esteves, presidente da Associação dos Médicos de Língua Portuguesa de Macau (AMLPL), integrou o painel de palestrantes do Webinar dedicado ao “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia: Ásia e Europa”. Neste âmbito, debruçou-se sobre o desenvolvimento da epidemia em Macau, mencionando as medidas de contenção assim como as estratégias que evitaram a propagação da doença neste território, que se encontra a 930km de Whuan – o epicentro da pandemia.
“O primeiro caso de COVID-19 em Macau foi detectado no dia 22 de janeiro”
De acordo com o especialista, Macau implementou restrições à entrada de pessoas que viessem da província de Obain, de que Whuan é capital, “logo após a comunicação da existência do novo tipo de pneumonia à Organização Mundial de Saúde, a 30 de dezembro 2019”. A introdução precoce de medidas restritivas envolveu o cancelamento de alguns eventos, incluíndo o fogo de artifício do ano novo Chinês, assim como o desaconselhamento de grandes aglomerados, sublinhando José Manuel Esteves que “o primeiro caso de Covid-19 em Macau foi detectado no dia 22 de janeiro”.
Ao 4º caso identificado, Macau já havia encerrado escolas e muitas das instituições públicas, foi introduzido o controlo de entradas e ainda uma série de medidas limitativas da mobilidade e de proteção pessoal. O encerramento por duas semanas de várias dezenas de casinos – o foco principal da economia do território – “foi a medida mais impactante e que constituiu um facto inédito em Macau”.
“A implementação precoce de medidas e o seu cumprimento disciplinar e voluntário pela população tornou o isolamento eficaz”
Foram as palavras do médico, que afirmou ter ocorrido em Macau uma 1ª vaga “com apenas 10 casos reportados, dos quais 8 foram importados e os restantes – um familiar de um caso importado e o motorista de taxi que os transportou – foram os casos de contágio já no interior do território”, especificou. Por outro lado, é de sublinhar que, apesar de Macau ser “o território com maior densidade populacional, não ocorreu disseminação secundária”, o que teria sido um “desafio enorme face a capacidade instalada de resposta se isso tivesse ocorrido”, acrescentou.
Importa ainda destacar a experiência consolidada de Macau com outras epidemias frequentes na Ásia, “com estruturas devidamente organizadas e equipadas, planos de contingência previamente feitos”, cuja simples ativação “de acordo com a evolução da situação, na sequência de etapas, permitiram que esta epidemia estancasse”, seguindo-se “um período de cerca de 40 dias em que não ocorreram novos casos em Macau”.
“Houve mais de 3 mil pessoas submetidas a regime de quarentena, distribuídas por 12 hotéis contratados pelo governo”
Com a disseminação da doença pela Europa, as autoridades anteciparam o regresso de estudantes e residentes que se encontravam no estrangeiro, tendo sido introduzido um programa de rastreio à entrada, “que permitiu o diagnóstico de 40% dos novos casos”, tendo os restantes sido submetidos a uma quarentena em hotéis alugados pelo governo, com realização de teste de diagnóstico ao 1º, 8º e ao 14º dias. “Se os três testes fossem negativos teriam alta e poderiam entrar livremente no território”. Nesta segunda vaga foram identificados 35 casos, um deles com uma forma grave da doença.
Segundo o especialista “há 4 dias que não temos um único doente no território”. Os doentes foram todos tratados e tiveram alta, a grande maioria com formas relativamente ligeiras da doença. Com a implementação da quarentena e o aumento das restrições de entrada no território, permitida apenas a residentes, “houve mais de 3 mil pessoas submetidas a regime de quarentena no território, chegando aos 12 o número de hotéis contratados pelo governo para acomodar as pessoas em regime de isolamento”.
Numa nota final, destaca a mudança de hábitos da população, com aumento de utilização de meios eletrónicos de pagamento e desmaterialização do dinheiro, preferência por comércio local e maior atenção a questões de saúde, estando as pessoas “mais preocupadas com a qualidade dos alimentos e com as medidas de prevenção e implementação de saúde”, concluiu José Manuel Esteves.
Assista à discussão destes tópicos no vídeo do webinar.
PRÓXIMO WEBINAR: Covid-19: Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona