O diretor da Unidade de Microbiologia Médica do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa (IHMT-NOVA), Celso Cunha, considera que a autoproclamada vacina pela Rússia não passa de um “protótipo” e não assegurou todos os testes necessários.
A Rússia registou a primeira vacina contra a Covid-19, denominada Sputnik V, mas a comunidade científica coloca em causa a eficácia e segurança do fármaco.
“Trata-se de uma iniciativa extemporânea dos governantes russos. Eles não registaram uma vacina, foi um projeto que dizem ser uma vacina. Este preparado ainda não passou todos os testes necessários para ser considerado uma vacina, nomeadamente, os três ensaios clínicos, que envolvem um grande número de voluntários. É um processo que demora vários meses”, sublinhou à rádio TSF, esta terça-feira (11 de agosto), o virologista Celso Cunha.
Em direto, às 17h00, na TVI24, Celso Cunha reafirmou que “estamos na presença de um protótipo de uma vacina, mas não de um produto final que possa ser administrado com segurança em relação aos efeitos secundários e em que haja uma garantia de eficácia para a população em geral. Na minha opinião, seria extremamente imprudente”, acrescentou.
Por este motivo e perante a escassez de informação, a notícia de que a Rússia registou a primeira vacina contra a Covid-19 “tem de ser vista com alguma desconfiança”.
O Presidente russo garante que é eficaz, mas não existem evidências científicas, realça Celso Cunha, porque não foram realizados os testes da fase 3, onde se comparam os grupos de controle (que recebem um placebo) com os grupos a quem foi administrada a vacina, verificando-se a verdadeira eficácia do produto.
O projeto de vacina desenvolvido pelo instituto Gamaleya só agora vai iniciar a fase 3 dos ensaios e o Governo russo planeia lançar uma campanha de vacinação a nível nacional já em outubro. A Rússia também garante que a vacina chega às farmácias em janeiro em 2021
Na RTP Notícias, em direto, às 19h00, Celso Cunha reforçou que a autorização de introdução no mercado de uma vacina só pode ser concedida depois de superadas todas as fases com sucesso e lembrou que é precisamente na fase 3 que “muitas candidatas a vacinas ficam pelo caminho”.
Nesta etapa dos ensaios estão implicados milhares de participantes e é avaliada a resposta imunitária, bem como a segurança em muito maior escala. “Se tudo não for cumprido, dizer que uma vacina é eficaz só porque as pessoas desenvolveram uma resposta imunitária pode ser enganador, não sabemos ainda se esta resposta é protetora o suficiente para uma infeção por coronavírus, só com ensaios maiores e mais longos”, afirmou Celso Cunha.
Para uma eficaz monotorização dos resultados é necessário “esperar alguns meses”. Por este motivo, mesmo que os ensaios da fase 3 se iniciassem neste momento, colocar no mercado ou produzir uma vacina em larga escala, com eficácia e segurança, só é possível antes da Primavera.
O virologista Celso Cunha esteve também hoje no Explicador, do Observador, onde considerou que “o bom senso irá prevalecer. Quando houver vacina, vai ser distribuída de acordo com as necessidades”.