No decorrer da sua participação no webinar dedicado aos “Testes diagnósticos e serologia à luz da pandemia”, o médico virologista João Vasconcelos Costa abordou os fundamentos científicos subjacentes aos testes de diagnóstico, em particular a RT-PCR em tempo real, destacando a importância desta técnica no conceito de testagem Inteligente: “detetar, rastrear para isolar”.
A pesquisa de RNA é umas das formas existentes para detectar um vírus, sendo para isso necessária a realização da técnica designada de RT-qPCR, do inglês “reverse transcriptase – quantitative Polymerase Chain Reaction”.
“A RT-PCR é uma técnica específica para amplificação de moléculas de RNA por intermédio de uma cópia de DNA”
De acordo com o ex-investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, a técnica de PCR pressupõe a replicação de DNA de modo a obter um número de moléculas detectáveis, um processo que “só é possível havendo um pequeno fragmento complementar – primer – a partir do qual se processa a síntese de nova cadeia de DNA”.
Sendo o SARS-CoV-2 um vírus de RNA, é necessário adicionar a esta técnica um passo de “transcrição reversa”, que consiste na passagem de uma linguagem ribonucleica para a linguagem desoxirribonucleica através de uma enzima presente nos vírus conhecida como transcriptase reversa. Desta forma, “a RT-PCR é uma técnica específica para amplificação de moléculas de RNA por intermédio de uma cópia de DNA”, afirmou João Vasconcelos Costa.
Como explicou o investigador, a técnica de RT-PCR tem uma grande limitação: “só se podem analisar os produtos da reação após todo o processo”. Por esse motivo foi introduzida uma nova variante – a técnica quantitativa ou em tempo real – que permite monitorizar o resultado da reação enquanto ela se processa, “através da introdução de um outro oligonucleótido complementar ao DNA a chamamos de sonda”, que emite fluorescência quando o fragmento de DNA é amplificado e logo que haja quantidade de fluorescência libertada suficiente, é possível começar a quantificar a reação”.
“A técnica de RT-qPCR constitui um grande contributo para o diagnóstico clínico”
A técnica de RT-PCR apresenta “uma sensibilidade muito boa (85-95%) e uma especificidade geralmente próxima dos 100%”, sublinhando que “em alguns casos não se consegue detectar falsos positivos”, um ponto importante no diagnóstico laboratorial.
No que diz respeito à validação, o especialista afirmou que “no contexto da emergência em que estamos existe uma validação para o Sistema Nacional de Informação de Vigilância Epidemiológica (SINAVE), que está a ser feita pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), em Lisboa, que subentende a Rede Geral de Laboratóros de Diagnóstico”, sendo que “para os particulares, a validação está a cargo do INFARMED”.
Na perspectiva do virologista, “a técnica de RT-qPCR é um grande contributo para o diagnóstico clínico, sendo “especialmente importante na fase inicial de contenção da epidemia, Contudo, o preletor acentuou a sua relevância “também nesta fase em que se começa a fazer o desconfinamento e alívio de medidas, porque já temos um número de casos suficientemente baixo para poder fazer um grande esforço de deteção”, afirmou.
Sobre as limitações da técnica sublinha, por um lado, o facto de ser “uma técnica de retrato momentâneo, colocando-se o problema da frequência necessária destes testes”, e por outro a deteção de RNA viral degradado na monitorização de alta hospitalar, “pois embora o individuo não esteja infeccioso, obriga o prolongamento da quarentena”, concluiu o ex-director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical.
Assista à discussão testes tópicos e saiba mais sobre esta técnica de diagnóstico, no video do webinar.
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