A afirmação é do virologista João Vasconcelos Costa, proferida durante o webinar intitulado “Testes diagnósticos e serologia à luz da pandemia”, incluído no 1º ciclo de webinars IHMT-NOVA/APAH, que decorreu no dia 5 de junho. O encontro contou ainda com a presença de Paulo Paixão e de Zoraima Neto e Cunha para debater os desafios que se colocam e possíveis soluções no contexto atual da pandemia de COVID-19. A moderação desta reunião virtual esteve a cargo de Jaime Branco, Diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa e de Albano Ferreira, Reitor da Universidade Katyavala Bwila, Benguela em Angola.
Zoraima Neto e Cunha, diretora científica do Instituto Nacional de Investigação em Saúde (INIS) de Angola, deu início ao webinar elaborando um retrato detalhado da situação atual do diagnóstico de COVID-19 em Angola. Como relatou, houve um aumento progressivo da capacidade institucional de diagnóstico molecular no país desde o início da epidemia, tendo sido processadas até à atualidade “um total de 10 978 amostras por RT-PCR, entre as quais 86 são casos positivos e 10164 casos negativos de COVID-19”. “Testar tudo e todos” tem sido a abordagem de Angola, contudo a especialista em Ciências Biomédicas afirma que “não é sustentável a longo prazo continuarmos a fazer o diagnóstico molecular baseado só em RT-PCR”, salientando que “precisamos de outros testes ou algum tipo de diagnóstico serológico que possa ser útil neste contexto”. Saiba mais sobre a evolução do rastreio da COVID-19 em Angola.
Durante a sua apresentação, o virologista João Vasconcelos Costa, a quem coube abordar os fundamentos científicos subjacentes aos testes de diagnóstico, em particular a RT-PCR em tempo real, destacou a importância da técnica no conceito de Testagem Inteligente: “detetar, rastrear, isolar”. Na perspetiva do ex-investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, “a técnica de RT-qPCR é um grande contributo para o diagnóstico clínico, sendo especialmente importante na fase inicial de contenção da epidemia, assim como na fase em que se começa a fazer o desconfinamento e alívio de medidas, porque temos já um número de casos suficientemente baixo para poder fazer um grande esforço de deteção”, afirmou. Leia aqui as principais características desta técnica.
Partilhando a sua experiência no âmbito do diagnóstico de COVID-19, o professor da Faculdade Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa, Paulo Paixão, acrescentou que numa fase em foi necessário usar kits de diagnóstico de diferentes casas comerciais, “foi reconfortante ver que aparentemente os resultados dos diferentes kits de RT-PCR não diferem entre si”, um facto suportado por vários artigos na literatura recente. Afirmou ainda que “os testes serológicos vão ser sobretudo importantes para o estudo imunitário, determinar a seroprevalência na população para se perceber como a infeção está a disseminar-se na comunidade”. Contudo, sublinha-se que “a importância de um passaporte imunológico é muito discutível e pode levantar sérias questões éticas”, alertando o especialista que “após anos de trabalho para evitar dicriminação religiosa, racial e de status HIV, há que pensar se vamos agora fazer uma discriminação positiva de quem tem um passaporte SARS-CoV-2”, concluiu. Veja aqui os destaques do especialista.
Saiba mais sobre estes tópicos e assista à discussão do tema no vídeo do webinar.
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