No passado dia 23 de maio de 2025, o Auditório do Colégio do Espírito Santo da Universidade de Évora acolheu o simpósio “Alterações Climáticas, Saúde e Parasitas: Um Olhar sobre as Dermatites Cercarianas no Alqueva”, uma iniciativa conjunta do GHTM – Unidade de Investigação do IHMT NOVA e da Universidade de Évora. O evento reuniu investigadores, profissionais de saúde, representantes institucionais e membros da comunidade científica para refletir sobre os impactos das alterações climáticas na saúde humana e animal, com especial destaque para as dermatites cercarianas, uma doença emergente provocada por parasitas zoonóticos, com caracóis de água doce como hospedeiros intermediários.
A comissão organizadora foi composta pela Prof. Doutora Manuela Calado (GHTM – IHMT NOVA), Prof. Doutora Margarida Simões (Universidade de Évora) e Dr. Mário Jorge Santos (Delegação Regional de Saúde do Alentejo da Direção Geral da Saúde), assegurando uma articulação entre investigação, ensino e clínica.
O simpósio apresentou os resultados do Projeto Alqueva, iniciado a partir de um projeto de mestrado, que envolveu trabalho de campo, inquéritos malacológicos, deteção de parasitas por eDNA e questionários a profissionais de saúde. Foram identificadas espécies predominantes de caracóis, mais abundantes no verão, e a deteção por eDNA mostrou-se eficaz em zonas de difícil acesso, revelando boa correspondência com áreas de presença confirmada de caracóis.
A vertente social do projeto também foi sublinhada, com a análise de um inquérito a profissionais de saúde do Alentejo. Os resultados indicaram conhecimento limitado sobre a dermatite cercariana, mas também a identificação de casos presumíveis na região. Foram discutidas estratégias para melhorar a vigilância epidemiológica, como a repetição dos inquéritos após alterações institucionais, entrevistas a grupos focais e o alargamento da amostra a enfermeiros e outras regiões do país.
Foi ainda abordada a relação entre aves migratórias e a disseminação de doenças infeciosas, como a gripe aviária, bem como o agravamento de doenças zoonóticas face às alterações climáticas. Estas reflexões reforçaram a abordagem One Health – Uma Só Saúde, que reconhece a interligação entre a saúde humana, animal e ambiental.
A importância de uma colaboração multissetorial, envolvendo farmácias, centros de saúde, universidades, laboratórios e o setor do turismo foi igualmente destada, e evidenciado o papel dos farmacêuticos comunitários como agentes promotores de literacia em saúde, particularmente perante desafios como a resistência a antimicrobianos.
O simpósio encerrou com uma mensagem clara: informação e colaboração são essenciais para responder a doenças emergentes num contexto de alterações climáticas. Reforçou-se a importância de transformar os resultados da investigação em medidas práticas de vigilância, prevenção e controlo, com o envolvimento ativo da comunidade e dos parceiros institucionais, numa abordagem integrada de Uma Só Saúde, que reconhece a interligação entre a saúde humana, animal e ambiental.