Mais de 300 especialistas reuniram-se no IHMT, em Lisboa, para o 2º Congresso Nacional de Medicina Tropical, que se realizou a 22 e 23 de abril, com o objetivo de debater o estado da arte na área das doenças tropicais e contribuir para o reforço da medicina tropical como tema científico e área de ação profissional, de intervenção pedagógica e de esclarecimento da opinião pública.
O tema do Congresso foi “Saúde em África”. O evento contou com a intervenção do diretor regional da Organização Mundial de Saúde-África, Luís Sambo, e com a participação de cinco diretores de faculdades de medicina africanas e de representantes de todos os institutos nacionais de saúde dos países lusófonos.
O 1º Congresso de Medicina Tropical decorreu de 24 a 29 de abril de 1952, em Lisboa, no mesmo momento em que se comemorava o cinquentenário do então chamado Instituto de Medicina Tropical e do Hospital do Ultramar. Este segundo congresso encerra as comemorações dos 110 anos do IHMT.
“A melhor forma de comemorar é fazer este congresso”, disse o diretor do IHMT, que, em entrevista telefónica à Lusa, sublinhou a atualidade do assunto em análise. “Se olharmos a realidade no mundo e, em particular na Europa, vemos que doenças tropicais que têm estado ausentes da Europa há muito tempo, como o chickungunya (doença febril que dá dores articulares fortes), o paludismo e o dengue, são doenças que nos visitam cada vez mais, não só através dos viajantes e migrantes, mas também em pequenos focos que já vão acontecendo (…) sobretudo nos países mediterrânicos”, disse.
“A mensagem [que queremos passar] é que as doenças tropicais não estão só nos trópicos, estão à nossa beira”, disse à Lusa o diretor, sublinhando a necessidade de os emigrantes e os turistas que visitam países tropicais saberem “que quando vão para esses países estão expostos a riscos”, que podem ser minimizados com recurso à medicina dos viajantes e às vacinas.
Refira-se que a medicina tropical tem vindo a assumir, cada vez mais, uma dimensão global: observou-se a epidemia de Dengue em Cabo Verde, confirma-se a reinstalação da malária na Grécia, especula-se sobre o risco de febre amarela na Europa. A Chikungunya, um vírus transmitido por mosquitos, cobre uma área cada vez maior do globo, incluindo partes da Europa, e os Estados Unidos têm enfrentado epidemias de vírus tropicais. Esta evolução está associada às alterações climáticas, à mobilidade social (migrantes e viajantes), à pobreza, às doenças negligenciadas e a dificuldades de acesso a medicamentos órfãos.
No Congresso, foram debatidos temas que vão desde os conceitos e história da Medicina Tropical, às doenças da pobreza, negligenciadas e emergentes, doenças transmitidas por vetores (como a malária e dengue), passando pela saúde dos viajantes e migrantes e pelos atores e instituições de saúde (designadamente ao nível global).
Nos dias 19 e 20 de abril, realizaram-se cursos e workshops pré-congresso, sobre dengue, educação médica, tuberculose multirresistente, ética na investigação em países de baixa renda, amostragem em populações de difícil acesso e história de medicina tropical. No dia 20, foi ainda inaugurada a Exposição “Portugal no Mundo: 1º Congresso Nacional de Medicina Tropical, 1982”.