O professor na Unidade de Saúde Pública Internacional e Bioestatística do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, Tiago Correia, foi convidado a participar no Jornal das 8 da TVI para falar sobre o cenário actual da pandemia de Covid-19 em Portugal.
Questionado sobre a possibilidade de Portugal ter já passado pelo pico da pandemia, Tiago Correia afirmou que “é muito precipitado assumir qualquer conclusão”, uma vez que Portugal está ainda “no início da situação crítica”.
“Ainda é muito precipitado assumirmos qualquer conclusão relativamente a esta tendência”
Embora os sinais sejam “positivos” e se assista a uma curva de contágio que não seguiu a “tendência que muitos julgavam que iria acontecer”, as oscilações no número de novos casos são, na opinião do especialista do IHMT, “alterações muito circunstanciais”, sendo necessário “mais tempo para perceber qual é o padrão que está aqui em causa”.
Esta tendencia reflete sinais igualmente positivos no que respeita ao impacto nos cuidados de saúde. É sabido que a subida descontrolada e repentina do pico exerce uma pressão “brutal” sobre o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e sobre os profissionais de saúde, o que leva os profissionais de saúde a ter que “lidar com o racionamento dos cuidados”. “Se conseguirmos ir gerindo a situação, estamos pelo menos a garantir que não estamos a sobrecarregar o sistema de saúde, e que sempre que o sistema de saúde é necessário, dá as respostas mais adequadas em cada momento”, defendeu o também investigador do Global Health and Tropical Medicine (GHTM-IHMT).
“A população portuguesa está vulnerável a este vírus”
De acordo com o especialista, o abrandamento das medidas de confinamento não é uma estratégia para implementar na fase da pandemia em que nos encontramos. “Os resultados de hoje refletem as medidas que foram tomadas nas últimas semanas, e a pior coisa que poderia haver agora era a falsa noção de que o problema já passou”. “O problema não passou”, sublinhou Tiago Correia e, recorrendo à experiência dos países que vivem a epidemia há mais tempo, explicou que “quando começam a aligeirar um pouco as medidas de confinamento os contágios voltam a subir”, sendo nesta fase crucial que “as pessoas tenham a noção de que este virus veio para ficar e, enquanto não houver respostas na área da Investigação fundamental, vamos ter muita dificuldade em gerir esta infecção”.
Importa também destacar que a população envelhecida e com elevada carga de doença torna Portugal num país de alto risco para a COVID-19, o que reforça a necessidade de proteger e cuidar da população mais idosa, “ainda que se perceba que este contágio ocorra também em pessoas de uma faixa etária um pouco mais Jovem”.
Confinamento é sinónimo de preservação dos cuidados de saúde
No que às medidas implementadas pelo Governo diz respeito, há que destacar a pressão já sentida pelo SNS nos cuidados de saúde prestados aos doentes afetados pela COVID-19. Segundo o especialista “se houver um acréscimo muito grande de casos de forma repentina, o sistema de saúde não vai dar resposta de forma eficaz”. “Aparentemente estamos no limite da capacidade instalada e isso significa que as medidas de controlo da população têm que se manter para evitar que haja aquele crescimento”, acrescentou.
Desta forma, “temos de ter alguma paciência para gerir esta circunstância e é muito importante que esta mensagem seja passada pelas autoridades”, apelou Tiago Correia.
Leia também aqui uma reflexão do especialista sobre a Covid-19, publicada no editorial do Journal of Health Planning and Management.