Os “Impactos e desafios às dinâmicas na Diplomacia Global” foi o tema do primeiro webinar especial dedicado à Diplomacia em Saúde na Era COVID-19, que teve lugar no dia 19 de junho. No encontro online participaram os embaixadores Francisco Ribeiro Teles, Manuela Franco e Adalberto Campos Ferreira, numa sessão moderada por Luís Faro Ramos, presidente do Instituto Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, Alexandre Lourenço, presidente da APAH e Filomeno Fortes, diretor do IHMT-NOVA.
Francisco Ribeiro Teles, secretário executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), afirmou que a pandemia por COVID-19 teve um forte impacto nos trabalhos da organização, levando ao cancelamento de várias “e importantes reuniões ministeriais e da cimeira de Luanda” e salienta que “será sobretudo no domínio económico que os efeitos da pandemia em áfrica poderão ser mais devastadores”. Com a criação de “um mecanismo regular de comunicação e partilha de experiências em cada país”, a CPLP procura “atender aos efeitos provocados pela pandemia por COVID-19”. Francisco Ribeiro Teles defende que no futuro a “estratégia apropriada é a cooperação e não a competição”, uma estratégia que a seu ver tem sido muito eficaz no domínio técnico, com “uma útil e profícua partilha de resultados entre cientistas de todo o mundo”.
A embaixadora de Portugal na República Árabe do Egito, Manuela Franco, referiu que “o governo do Egipto também se tem empenhado em auxiliar outros países africanos mais necessitados”, nem sempre bem recebido por parte da população, o que levanta questões “de como a diplomacia pode ser um instrumento posto ao serviço de resultados mais positivos para todos”. A embaixadora recordou que “as preocupações internacionais com a saúde são muito antigas” e reforça que a Organização Mundial de Saúde (OMS) “tem desempenhado um papel nem sempre pacífico mas seguramente importante nesta crise”. “A concertação internacional em fóruns próprios desenhados para o efeito é com certeza um dado positivo essencial para uma coordenação de políticas a desenvolver na área da Saúde Pública”, reconheceu.
Adalberto Campos Fernandes, afirmou que “não existe na memória concreta dos tempos práticos experiência como esta” pandemia, que “tem por todo o mundo o seu caminho de destruição”. Na sua perspectiva esta é uma oportunidade única para reflectir “numa profunda reforma da OMS”, para que seja “uma organização que preenche as necessidades de uma visão global onde, além da economia, a dimensão sanitária está acautelada”. O embaixador da Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP) argumentou a importância da ciência na base da decisão política e de “trazer a ciência para um debate mais aberto, democrático e de cidadania”, e apela à união dos países lusófonos com aprofundamento dos trabalhos de cooperação no espaço lusófono, fazendo deste “um espaço melhor preparado para situações como a que estamos a viver”.
Partilhando da opinião de que a atual pandemia constitui uma oportunidade para repensar e revitalisar a OMS e a CPLP, Francisco Ribeiro Teles afirma que o futuro da OMS “será aquilo que os seus estados membros pretendam que ela seja”, acrescentando Manuela Franco que “as organizações internacionais não são mais do que o espelho dos seus estados membros”, e salienta a necessidade de “mobilizar toda a criatividade e energia para garantir que os resultados são favoráveis”. Na visão de Adalberto Campos Ferreira “o mundo vai organizar-se de uma forma mais preventiva”. Como afirmou, “temos muito espaço para estar muito melhor preparados dos que estivemos nesta pandemia”, no que diz respeito à tomada de decisões sobre “matérias técnicas, científicas e sanitárias, que têm fortíssimas implicações políticas”, dando como exemplo o fecho de fronteiras.
Durante o debate destacou-se ainda a importância da rede dos Institutos Nacionais de Saúde ao nível da CPLP, no qual Filomeno Fortes sublinhou a criação do microsite COVID 360 IHMT/NOVA/CPLP com disponibilização de informação científica selecionada em língua portuguesa, o desenvolvimento de webinares bem como alguns projetos de Investigação em andamento, como “algumas das dinâmicas que o IHMT tem estado a desenvolver neste momento de crise para aproximar ainda mais a comunidade CPLP”, acrescentando também que que este “é o momento dos políticos começarem a acreditar mais nos cientistas e trabalharem mais estritamente com os cientistas”.
Numa nota final, Luis Faro Ramos afirma: “Portugal é um país que acredita no multilateralismo e tem-no provado ao longo dos tempos. Por mais dificeis que sejam os desafios, vale a pena persistir e insistir nesta via e tentar cooperar em vez de competir”.
Saiba mais sobre os desafios à diplomacia e assista à discussão destes tópicos no vídeo do webinar.