No webinar subordinado ao tema “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia: Ásia e Europa”, que teve lugar no dia 22 de maio, Alexandre Abrantes, médico e professor da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA), abordou o impacto das medidas em vários aspectos da pandemia, assim como a pertinência e sentido de oportunidade da implementação da resposta, destacando quarto tópicos-chave que resultam do estudo publicado no Barómetro COVID-19.
No que respeita ao excesso de mortalidade da época pandémica, o estudo realizado pelo grupo do professor Alexandre Abrantes sugere que em Portugal “desde o primeiro óbito até ao dia 15 de abril terá havido 1300 óbitos a mais”, o que corresponde a um aumento de 15% de óbitos em relação ao que era de esperar entre o mesmo período nos dez anos antes. O médico destaca ainda que estas 1300 mortes se “concentraram extraordinariamente na população com idade superior a 75 anos”, sendo que “apenas 49% têm diagnóstico de COVID-19 na respetiva certidão de óbito”.
As autoridades portuguesas responderam bem e atempadamente?
De acordo com os resultados dos estudos que avaliaram o inicador stringency-index, “quando Portugal decretou quarentena tinha registado um óbito, enquanto que Espanha, Itália e Reino Unido tinham já reportado 15, 133 e 621 óbitos, respetivamente”, demosntrando os dados que “Portugal atuou cedo e o Reino Unido relativamente tarde”, acrescentou o também vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa .
“Não basta o governo decretar uma medida, é preciso que o povo adira”
O especialista em Saúde Pública mencionou que “Portugal e Espanha aderiram de forma massiva” às medidas implementadas, tendo os portugueses reduzido na ordem dos 80%, e repentinamente, “as suas deslocações, atividades de lazer e utilização de transportes públicos”.
O mesmo não se verificou em Itália, nem no Reino Unido. Em ambos, as medidas foram implementadas de forma progressiva, porém “Itália demorou 10 dias entre a introdução das primeiras medidas e a quarentena completa”, e apenas 70% da sua população aderiu a estas medidas. Em Inglaterra, por seu turno, verificou-se uma “maior resistência da população às medidas implementadas pelo governo, registando uma adesão de 60% – a mais baixa de todas”, frisou.
A combinação de medidas do governo e resposta do público tiveram algum impacto na pandemia?
“Sim, deu resultado”, afirmou veementemente Alexandre Abrantes salientando que duas semanas após o lockdown eram visíveis “resultados substânciais“ no que respeita a morbilidade, mortalidade e os internamentos. Em particular, “registou-se uma redução de 25% no número de óbitos, de 23% no número de novos casos e de 50% no número de casos graves de COVID-19”, enumerou.
A terminar a sua exposição, destacou um último aspecto relevante na resposta à pandemia e que diz respeito ao baixo número de internamentos em Portugal, “o que evitou que a capacidade instalada dos hospitais portugueses fosse suplantada, como aconteceu em Espanha e Itália”, concluiu Alexandre Abrantes.
Assista à discussão destes tópicos no video do webinar.
PRÓXIMO WEBINAR: Covid-19: Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona