A revista Science publicou um artigo sobre a questão de África não estar a sentir o impacto da pandemia como noutros continentes. Apesar de no início do mês de agosto ter sido divulgado o milionésimo caso oficial de Covid-19 nesta região do globo, África parece estar a resistir bem à pandemia, com pouco menos de um caso confirmado em cada mil pessoas e 23.000 mortes até ao momento. Nos EUA o número de mortes é atualmente de mais de 185 mil e no Brasil mais de 123 mil, indicam os dados reunidos pelo Center for Systems Science and Engineering, da Universidade de Johns Hopkins.
Apesar dos números baixos no continente africano, “várias pesquisas de anticorpos indicam que muito mais africanos foram infetados pelo vírus, uma discrepância que está a intrigar os cientistas no continente”, pode ler-se na Science.
De acordo com estudos realizados, foram encontrados anticorpos para o Sars-Cov-2 em milhões de queniano, um sinal de que podem ter sido infetados anteriormente e que os hospitais não estão a relatar os números massivos de doentes com Covid-19. Também nas cidades de Nampula e Pemba, no Nordeste de Moçambique, investigadores descobriram anticorpos Sars-Cov2 em 3% dos 10% participantes. No entanto em Nampula, com cerca de 750.000 habitantes, apenas 300 infeções foram registadas na altura.
Tendo em conta o resultado das pesquisas e a baixa mortalidade por infeção Sars-Cov-2, levanta-se a questão do continente africano tentar a “imunidade de grupo”, sem uma vacina, mas protegendo os mais vulneráveis. Esta reflexão é proposta por Yap Bourn, microbiologista e epidemiologista dos Médicos Sem Fronteiras, que fez uma pesquisa ainda por publicar com base nos habitantes dos Camarões e que revelou uma elevada prevalência de anticorpos Sars-Cov-2. Mas Glenda Gray, presidente do South African Medical Research Council, afirma que pode ser perigoso basear as estratégias para a COVID-19 em pesquisas de anticorpos. Não é de todo claro se os anticorpos realmente conferem imunidade, e caso se confirme, quanto tempo dura.