A tragédia humana que tem vindo a ocorrer em Cabo Delgado, a norte de Moçambique, tem vindo a assumir contornos de crueldade inimaginável com cuja ocorrência uma cultura humanista não pode conformar-se.
A manter-se esta situação, perante a aparente passividade de quem deveria tudo fazer para proteger populações indefesas, é chegado o momento de a sociedade civil e as instituições autónomas se envolverem na denúncia e no não conformismo com acontecimentos de uma crueza, de uma indignidade e de uma violência que despreza os mais básicos sentimentos de qualquer comunidade que esteja atenta ao que se passa à sua volta e que considere que a indiferença perante o sofrimento atroz não é aceitável.
Somos um grupo de pessoas integradas em Instituições formadoras de profissionais de saúde. Para além de prepararmos Recursos Humanos para o mundo, altamente habilitados do ponto de vista técnico e científico, consideramos que a sua formação humanística e ética sobre o valor da dignidade de cada pessoa, a recuperação da sua saúde e a luta, ao transe, para a preservação da sua vida, são valores indissociáveis dessa formação.
Apelamos, pois, a que esta situação seja objecto de uma intervenção por parte das autoridades públicas, intervenção essa que seja eficaz na protecção das crianças, das mulheres e dos homens que têm vindo a ser vítimas da violência descontrolada que tem grassado pelo território e que invista na reconstrução das vidas que ainda possam ser salvas.
Disponibilizamo-nos para colaborar no âmbito do que sabemos fazer, ou seja, lutar pela salvação de vidas, pela reabilitação das vítimas e pela protecção e pelo amparo de que necessitem, afinal aquilo que, como profissionais de saúde, estamos preparados para fazer e sabemos dar.
Autor: Maria de Belém Roseira – Presidente do Conselho Consultivo do IHMT-NOVA