Existem diversos tipos de máscaras (COVID Máscaras: indicações da sua utilização). Aqui abordaremos sumariamente a sua reutilização
No contexto comunitário utilizam-se essencialmente dois tipos de máscaras:
- Máscara não cirúrgicas, comunitárias ou de uso social
- Máscara cirúrgica, tecnicamente designadas FFP1, do inglês Filtering Face Piece 1 ou simplesmente P1, considerada Equipamentos de Proteção Individual (EPI) respiratório
As evidências disponíveis mostram que as máscaras não cirúrgicas, comunitárias ou de uso social são menos protetoras que as máscaras cirúrgicas. Alguns estudos mostraram que 40-90% das partículas virais penetraram na máscara, a tal ponto que casos de doença viral confirmada em laboratório, foram significativamente mais frequentes entre os profissionais de saúde que usavam máscaras de pano, em comparação com aqueles que usavam máscaras cirúrgicas. Face a estas evidências, as máscaras comuns de tecido (sociais) não são consideradas protetoras contra vírus respiratórios e o seu uso não é incentivado com essa indicação. O seu uso é, no entanto, incentivado no sentido altruístico, de diminuir a dispersão de gotículas respiratórias do próprio, atendendo ao facto de haver casos de pessoas que estão a expelir o vírus e não apresentam ainda sintomas ou não virão a apresentá-los de todo.
As máscaras não cirúrgicas, comunitárias, artesanais ou de uso social são reutilizáveis. Nunca esquecendo o seu uso e manuseamento correto, devem ser introduzidas na máquina de lavar ou num recipiente com água e detergente aguardando a lavagem manual ou na máquina. Caso seja necessário proceder à troca de uma destas máscaras por outra durante o dia, a primeira deve ser guardada num saco de plástico, ou qualquer outro recipiente, idealmente estanque, passível de ser eliminado ou lavado com ela.
As máscaras cirúrgicas (P1) são feitas para uso único. Quando suja ou molhada com fluidos corporais, quando não possa ser ajustada adequadamente, ou se a respiração através dela se torna difícil, a máscara deve ser descartada de imediato para evitar a contaminação por deposição de partículas infeciosas na superfície, como sucede com o vírus SARS-CoV-2.
Até ao momento, os fabricantes de máscaras não tiveram motivos, ou incentivos, para desenvolver métodos de descontaminação, ou introduzir no mercado máscaras reutilizáveis, mas é óbvio que há uma necessidade urgente de desenvolver Equipamentos de Proteção Individual (EPI) respiratórios reutilizáveis, que possam ser descontaminados.
O SARS-CoV-2, o vírus causador da COVID-19, mantem a sua infecciosidade durante algum tempo no ambiente que nos rodeia, inclusive em superfícies de vários materiais, como ferro, papelão e tecido. Isso explica a existência de risco de que a superfície externa das máscaras cirúrgicas usadas no atendimento de doentes possa ser rapidamente contaminada. A contaminação da superfície das máscaras cirúrgicas implica um risco de infeção ao reutilizá-la. Não foi possível identificar nenhum método que efetivamente remova a ameaça viral, que seja inofensivo para o utilizador, e que não comprometesse a integridade dos vários elementos da máscara facial.
Os grupos que estudam métodos de esterilização para os diferentes tipos de máscaras consideradas equipamento de proteção individual (respiradores P1 ou máscaras cirúrgicas, P2 e P3) estão a ser incentivados a compartilhar os resultados logo que os obtenham. No entanto, não existindo dados disponíveis sobre os métodos de limpeza eficazes e não prejudiciais para equipamentos de uso único, o European Centre for Disease Control and Prevention (ECDC) recomenda que este, independentemente do seu tipo (P1, P2 e P3) seja descartado após utilização.
Bibliografia
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Autoria
Documento elaborado pelos seguintes membros da Comissão de Saúde Ocupacional, Biossegurança e Qualidade (CoSOBQ) do IHMT/NOVA: Cláudia Conceição; Dinora Lopes; Jorge Ramos; José Manuel Cristóvão; Maria Luísa Vieira; Marta Pingarilho; Pedro Ferreira; Ricardo Parreira.