Durante o 3º webinar da série “O que sabemos sobre COVID-19”, intitulado “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na Ásia e Europa”, Luzia Gonçalves, professora auxiliar de Bioestatística na Unidade de Saúde Internacional e Bioestatística do IHMT, abordou o aparecimento e evolução da pandemia da Ásia para a Europa, com foco em Portugal, Espanha e Itália.
“Era muito fácil prever que o surto de COVID-19 facilmente se disseminaria para outros países”
Na medida em que a China estabelece fortes relações comerciais com vários países europeus e por ser um dos países mais visitados a nível mundial (ocupando o 4º lugar do ranking), acrescendo a este contexto a elevada mobilidade entre os países da Europa como França, Espanha e Itália, “era muito fácil prever que o surto de COVID-19 facilmente se disseminaria para outros países”, afirmou a especialista.
Entre 22 de janeiro e 22 março ocorreu uma cobertura global do surto a ponto de ser declarada pandemia a 11 de março, data em que Portugal, Espanha e Itália haviam já reportado o primeiro caso, “embora mais tardiamente no caso de Portugal”. No fim de fevereiro e início de março a situação era preocupante no norte de Espanha e de Itália, destacando-se eventos que facilitariam a disseminação da doença, nomeadamente a aglomeração de pessoas nas ruas ou em estádios. Com as fortes ligações que Portugal estabelece com estes países a doença alastrou-se; porém, a rápida implementação de medidas restritivas impediu uma disseminação galopante da doença, alertou a especialista do IHMT NOVA, Luzia Gonçalves.
Características da Europa que propiciaram o desenvolvimento da epidemia
Durante a sua exposição, a professora abordou as principais características da Europa que propiciaram o desenvolvimento da epidemia e também algumas diferenças nos comportamentos sociais entre Portugal e Espanha ou Itália, destacando:
– A elevada densidade populacional, “embora Espanha não seja tão densamente povoada como Itália ou o litoral de Portugal, tem muitas cidades e isso pode ser problemático”, explicou;
– A população envelhecida: Portugal, Espanha e Itália têm uma elevada percentagem de população com idade acima dos 65 anos;
– As diferenças ao nível do planeamento urbano das cidades: a existência de “grandes praças que atraem um elevado número de pessoas (nacionais e turistas) e onde há muitos eventos de manhã à noite”, assim como a “ocupação de espaços como esplanadas” é mais frequente em Itália e Espanha, em comparação com Portugal;
– Hábitos de higiene e comportamentos sociais: Portugal é dos países que apresenta maior cuidado com a lavagem das mãos e adoptou comportamentos mais higiénicos a nível alimentar, como por exemplo a substituição de açucareiros por pacotes de açúcar. “Se pensarmos na quantidade de mãos que passam nos açucareiros” é uma ótima via de transmissão de partículas virais, frisou;
– Número de camas e de profissionais de saúde em hospitais: apesar de se posicionarem os três na cauda da Europa, Portugal tem melhores indicadores do que Itália e Espanha, “com mais camas e mais médicos por 100 mil habitantes, embora Itália tenha mais enfermeiros e pessoal auxiliar de cuidados de saúde”.
“Atualmente estamos perante dados com uma elevada dinâmica e é preciso ter cuidados redobrados com a sua análise”
Relativamente aos dados atuais sobre COVID-19, Luzia Gonçalves chama especial atenção para a origem dos dados que são publicados, nomeadamente no que diz respeito às comparações direta. “Existem várias fontes que estão a monitorizar e a agregar dados, sendo atualizadas em momentos diferentes e podem ter formas diferentes de recolher os dados”, alerta.
Em conclusão, a professora afirmou que “hoje ultrapassámos os 5 milhões de infectados em todo o mundo”. A maior parte dos países europeus estão já numa fase descendente, “Espanha e Itália ocupam os piores lugares na estatística, enquanto Portugal apresenta um menor número de casos e de mortos” por COVID-19. Apesar de “ainda não termos chegado ao fim”, a especialista afirma que “é essencial ter dados a nível micro para perceber melhor a propagação da doença a nível local”, salientando que “houve até agora muita informação produzida e provavelmente ainda só vimos a ponta do iceberg”, concluiu Luzia Gonçalves.
Assista à discussão dos tópicos abordados no vídeo do webinar.
Consulte a apresentação da professora do IHMT-NOVA Luzia Gonçalves