O 5º webinar promovido pelo IHMT-NOVA/APAH, subordinado ao tema “Testes diagnósticos e serologia à luz da pandemia”, contou com a participação de Paulo Paixão, professor da Faculdade Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa, que neste encontro virtual partilhou a sua experiência no que diz respeito ao diagnóstico de COVID-19.
“Fazer uma colheita da nasofaringe ou nasal alto fornece o mesmo resultado”
Durante a sua apresentação o especialista salientou as novidades relativas à colheita de amostra para diagnóstico de COVID-19. Sobre este tópico, o especialista diz que, tal como recomendam as diretrizes da Direção-Geral da Saúde “fazer exsudado da nasofarínge e da orofarínge”, sublinhando que “se eventualmente não conseguirmos chegar à nasofarínge – se o doente tiver um desvio no septo, por exemplo – então faz-se a colheita na outra narina; no entanto, se chegar ao local na primeira tentativa não é necessário repetir, porque nasofaringe só há uma e não vamos insistir com um procedimento que é bastante incómodo para o doente”, frisou.
A evidência científica recente indica ainda “que deve fazer-se colheita do trato respiratório inferior dos casos graves quando existe uma forte suspeita clínica e estes testes foram negativos”, sublinhando o professor que “a carga viral a nível do trato respiratório inferior é normalmente mais elevada do que no superior”.
Na opinião do virologista, contudo, a grande novidade sobre o tema prende-se com o local da colheita, referindo que “artigos recentes referem que fazer colheita da nasofaringe fornece o mesmo resultado que uma colheita nasal alto”, uma informação que foi suportada pelas guidelines da Sociedade Americana de Infecciologia. Como afirmou o especialista, “este é um aspecto muito prático”, e “durante o verão e em preparação para a próxima temporada, muito provavelmente vamos mudar de prática, porque esta é menos incómoda para os doentes”.
No que toca à criação de pontos de colheita de amostras no exterior do hospital, o especialista destacou duas “tremendas” vantagens: se por um lado, “o doente vem na sua viatura e não temos de estar preocupados com a desinfecção do local designado para a colheita, e não há risco de contaminações”, por outro “é extremamente cómodo para o doente porque não passa pelo hospital e é um processo bastante rápido”, sublinhou.
“É reconfortante saber que os resultados de RT-PCR das diferentes casas comerciais não diferem entre si”
Admitiu o virologista, referindo que esta era uma preocupação no seio da comunidade médica nos hospitais públicos e privados e que diz respeito aos diferentes testes comerciais de RT-PCR. “Numa fase em que as casas comerciais com que trabalhamos não nos conseguem fornecer testes, e naturalmente tivemos de mudar de casa commercial, o que acontece que a maior parte dos laboratórios que tem grande volume de testes de RT-PCR, é muito reconfortante vermos que, aparentemente, os resultados de RT-PCR das diferentes casas comerciais não diferem entre si, um facto suportado por vários artigos na literatura recente”, elucidou.
O especialista destacou também um sistema que permite fazer testes rápidos de RT-PCT, “que pode ser feita em qualquer hospital, sem necessidade de um técnico especializado na técnica e que nos dá uma responta num período de uma hora”, pode “revolucionar completamente” resposta à pandemia.
“Os testes serológicos vão ser sobretudo importantes para se perceber como a infeção está a disseminar-se na comunidade”
Sobre a realização de testes serológicos, o também presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia afirmou que “os testes serológicos vão ser sobretudo importantes para o estudo imunitário, determinar a seroprevalência na população para se perceber como a infeção está a disseminar-se na comunidade”. Contudo, sublinha-se que “a importância de um passaporte imunológico é muito discutível e pode levantar sérias questões éticas”, alertando o especialista que “após anos de trabalho para evitar dicriminação religiosa, racial e de status HIV, há que pensar se vamos agora fazer uma discriminação positiva de quem tem um passaporte SARS-CoV-2”, concluiu Paulo Paixão.
Saiba mais sobre estes tópicos e assista à discussão do tema no vídeo do webinar.
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