A Leptospirose é uma zoonose reemergente de elevada distribuição mundial, sendo endémica nas regiões tropicais e subtropicais.
Nas zonas temperadas, a doença está geralmente associada á exposição ocupacional ou de lazer, que facilita o contato com as leptospiras, os agentes causais.
As leptospiras são bactérias espiraladas e muito móveis, pertencendo ao complexo Leptospira interrogans sensu lato, que engloba mais de 260 serovares patogénicos para os humanos e animais.
A transmissão das leptospiras é feita pelo contacto direto ou indireto com água contaminada pela urina de animais, sobretudo roedores (reservatórios naturais) e/ou de hospedeiros infetados.
Em regra, são os roedores os principais responsáveis pela dispersão das leptospiras no ambiente, embora alguns animais (canídeos, bovinos, suínos, equídeos).
O contacto humano é acidental e resulta quer de uma exposição profissional (trabalhadores de matadouro, saneamento, agricultores entre outros) quer do contacto com coleções de água doce em atividades de lazer (pesca, canoagem, natação em barragens, lagoas ou até na prática de golfe).
Clinicamente, a doença pode confundir-se com uma gripe, podendo, no entanto, ser fatal nos casos mais graves (cerca de 10%, em zonas temperadas), devido a choque séptico, insuficiência renal aguda ou pneumonia hemorrágica. Se for detetada a tempo, tem um prognóstico mais favorável, pois as bactérias são muito sensíveis aos antibióticos na fase inicial da doença.
Em Portugal, a Leptospirose tem tido uma importância crescente nas últimas décadas, com a ocorrência de casos fatais, em particular no Arquipélago dos Açores, onde a doença é endémica, levando à implementação, nos últimos anos, de campanhas integradas ao nível da prevenção, controlo e vigilância sobretudo nas duas ilhas mais população (São Miguel e Terceira).
Em termos de diagnóstico, cabe ao laboratório confirmar a suspeição clínica, sobretudo pelo teste de referência (Teste de Aglutinação Microscópica) preconizado pela OMS e pelas atuais abordagens moleculares.