Ano: c. 1960
Dimensões: Comprimento (aberta) 7 cm X Diâmetro 0,7 cm
Museu (N.º Inventario): IHMT.0000934
A varíola é conhecida desde a antiguidade (Egipto, séc. XV a.C.; China e India, séc. XI a.C.). Foi também a responsável por algumas das mais mortíferas epidemias na Europa medieval, como a praga de Antonino (séc.II) que vitimou milhões de pessoas e precipitou o declínio do Império Romano. Mais do que as atividades bélicas de conquista, foi igualmente a varíola a principal causa da queda dos impérios Inca e Asteca.
Na Europa do século XVIII as estatísticas apontam para cerca de 20 a 60% de mortes (nas crianças, 80%), entre os infetados por varíola e muito dos outros ficavam desfigurados pela doença. A ocorrência de mortos pela doença rondava então os 400 000/ano.
Verificando-se que os sobreviventes já atingidos pela doença, ficavam imunes a novos contágios tentou-se, como primeiras técnicas de imunização, a introdução nas narinas do material recolhido das pústulas de doentes, ou a sua inoculação por escarificações e por via subcutânea, métodos que não eram, contudo, isentos de riscos, pois podiam por si ser a causa do contágio e ainda transmitir outras infeções, entre elas a sífilis. Esta inoculação ficou conhecida pelo método da “variolação”, que Lady Montague, mulher do embaixador do Reino Unido na Turquia, defendeu acerrimamente na segunda década do século XVIII. Porém, o risco de morte nos que se submetiam a esses métodos era 10 vezes inferior ao causado pela doença.
Aos 8 anos de idade, Edward Jenner (1749 – 1823), em Inglaterra, foi submetido ao método da variolação. Mais tarde formou-se em medicina e, sabendo que as camponesas que lidavam com vacas, com uma doença semelhante à varíola – a vacinia, não contraíam a varíola, fez estudos científicos, algumas experiências bem sucedidas e recolheu dados estatísticos que comprovaram a imunidade cruzada. Após algumas resistências, esta vacina anti-varíola convenceu a incredulidade da comunidade médica e, no início do século XIX foi divulgada por toda a Europa e América do Norte, abandonando-se com esta vacina o método da variolação.
Por meados do Século XX a varíola estava praticamente controlada na Europa e América do Norte. Porém, continuava devastadora noutras regiões do Mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a lançar o Programa de Irradicação da Varíola, em 1967. A doença foi finalmente extinta em 1977 e a Assembleia da OMS, de 1980, pôde finalmente recomendar que se abandonasse a vacina contra a varíola, mas mantendo a vigilância. Pela primeira vez na longa história da Medicina uma doença tinha sido vencida.
A peça do mês é uma “caneta” escarificador utilizada no IHMT para a vacinação anti-varíola. Tem gravada a inscrição “PARQUE VACINOGÉNICO”. O Parque Vacinogénico de Lisboa foi fundado em 1888 por Carlos Moniz Tavares e Guilherme Enes, dois médicos militares. Localizou-se na futura Av. Almirante Reis, onde tinha todas as instalações necessárias – estábulos, laboratórios e salas para vacinação. Seria mais tarde transferido para Odivelas (Serra da Amoreira).