A limpeza e higienização de superfícies e de objetos são medidas de proteção importantes para a interrupção da transmissão do SARS-CoV-2 (o vírus causador da COVID-19). São exemplos de superfícies e objetos frequentemente tocados ou de utilização comum: mesas, bancadas, interruptores de luz, maçanetas das portas, puxadores de armário, corrimão de escadas, torneiras de lavatórios e botões de elevador, e ainda os monitores, teclados de computador, tablets e telemóveis.
A evidência de que a as infeções por SARS-Cov-2 se dão através das superfícies e objetos contaminados é crescente. O conhecimento atual sugere que o vírus pode permanecer viável de algumas horas até 9 dias em superfícies de diferentes materiais tais como metal, plástico e vidros1. Assim a limpeza de superfícies e objetos visivelmente sujas, seguidas da sua desinfeção, é uma medida que assume uma especial importância na prevenção da transmissão da COVID-19 e outras doenças respiratórias de origem viral em residências e ambientes comunitários.
Quando nos referimos a limpeza, fazemos referência à remoção de sujidade e impurezas e mesmo de microorganismos, alguns potencialmente patogénicos, de superfícies. Estes últimos, normalmente, não são destruídos durante o processo, no entanto, a sua remoção diminui o seu número e, consequentemente, o risco de virmos a ser por eles infetados.
A desinfeção, por outro lado, refere-se ao uso de produtos químicos, por exemplo, desinfetantes, para destruir microorganismos em superfícies. Este processo não limpa necessariamente superfícies sujas, mas ao garantir a destruição de agentes potencialmente infeciosos numa superfície, especialmente quando combinada com a sua limpeza, irá reduzir o risco de infeções
Ao limpar e desinfetar superfícies e objetos deve ter-se em atenção os seguintes pontos:
Limpeza e desinfeção de superfícies duras (não porosas)
- Antes de iniciar o processo de limpeza e desinfeção não se esqueça que deve sempre usar luvas e garantir uma boa ventilação do espaço enquanto estiver a usar o desinfetante.
- Use luvas preferencialmente descartáveis ao limpar e desinfetar as superfícies.
- Lave e limpe convenientemente as mãos imediatamente após a remoção das luvas. A lavagem das mãos pode ser efetuada com água e sabão (mais informação aqui) ou com solução antisséptica de base alcoólica (SABA) contendo pelo menos 60% de álcool (pode consultar forma de preparação aqui)
- Caso a superfície a limpar se encontre visivelmente suja limpe-a inicialmente com água e sabão ou outro detergente;
- De seguida use um desinfetante doméstico, que poderá ser a vulgar lixívia (hipoclorito de sódio) com pelo menos 5% de cloro ativo na forma original ou álcool com uma concentração entre 62-70%;
- Podem ser ainda utilizados produtos de desinfeção rápida sob a forma de toalhetes humedecidos no desinfetante e fornecidos em dispensador próprio (facilitando tirar 1 a 1 sem os contaminar). Estes produtos juntam habitualmente na sua composição, detergentes e desinfetantes compatíveis. Estes toalhetes devem ser usados exclusivamente numa única superfície, não devendo nunca ser reutilizado em qualquer outra, uma vez que a sua utilização favorece a disseminação dos agentes contaminantes. Deve ser usado um toalhete para cada superfície. Cada toalhete deve ser de imediato descartado para o caixote do lixo comum.
- Não secar de imediato a superfície desinfetada pois é necessário que esta fique molhada durante alguns minutos até secar ao ar para que a desinfeção seja eficaz.
Limpeza e desinfeção de aparelhos eletrónicos
Para limpar aparelhos eletrónicos (monitor e teclado do computador, tablets, telemóvel e outros) caso nenhuma orientação do fabricante esteja disponível, considere o uso de toalhetes à base de álcool ou spray contendo pelo menos 70% de álcool de modo a desinfetar as superfícies sensíveis ao toque. Recomenda-se secar bem as referidas superfícies para evitar a acumulação de líquidos.
Produtos de limpeza que podem ser usados em superfícies e objetos para destruir o coronavírus SARS-CoV-2
- Lixívia (hipoclorito de sódio). A Direção-Geral da Saúde recomenda a utilização de uma solução diluída de lixívia comercial com, pelo menos, 5% de cloro ativo. A solução para desinfetar deve ser diluída para 0.05%, ou seja, 1 medida de lixívia com 99 medidas de água, caso se pretenda desinfetar uma superfície de uso comum (pode consultar forma de preparação aqui).
É importante referir que se a desinfeção pretendida envolver superfícies em áreas de isolamento acessíveis a uma pessoa com COVID-19 (infeção suspeita ou confirmada), a desinfeção deve ser efetuada com uma solução de lixívia a 0.1%, ou seja 1 parte de lixivia adicionada a 49 partes iguais de água (pode consultar forma de preparação aqui).
Tendo em conta todas as recomendações referidas acima, relativas à limpeza e desinfeção de superfícies duras, lembre-se que:
- Deve sempre usar luvas e nunca fazer misturas da lixívia com outras substâncias, sobretudo amoníaco devido à libertação imediata de gases tóxicos. Não guarde a solução por mais do que um dia. A lixívia degrada alguns recipientes de plástico, e os seus componentes ativos vão sendo, com o tempo, libertados para a atmosfera e, por isso, esta vai perdendo a sua eficácia ao longo do tempo.
- Antes de aplicar lixívia diluída, limpe a superfície com água e detergente. Aplique esta solução e aguarde, no mínimo, 10 minutos antes de enxaguar e deixe secar ao ar, assegurando uma boa ventilação do espaço.
- Esta solução pode corroer o metal com o tempo.
- Caso se trate da desinfeção de superfícies numa área de isolamento deve esperar pelo menos 20 min com arejamento depois da pessoa doente (ou suspeita de estar doente) sair da divisão e só depois iniciar os procedimentos de limpeza em segurança.
- Antes de aplicar lixívia diluída, limpe a superfície com água e detergente. Aplique esta solução e aguarde, no mínimo, 10 minutos antes de enxaguar e deixe secar ao ar, assegurando uma boa ventilação do espaço.
- Álcool etílico. As soluções alcoólicas com cerca de 70% (60-80%) de álcool são as mais eficazes para inativar coronavírus em superfícies rígidas.
- Primeiro, limpe a superfície com água e detergente e enxague. Depois use um toalhete ou um pano humedecido na solução alcoólica e deixe-o atuar na superfície durante pelo menos 30 segundos para garantir a desinfeção da superfície.
- O álcool é seguro para todas as superfícies, mas pode fazer perder a cor de alguns plásticos.
- Se tiver em casa álcool etílico que indica 96%-98% no rótulo (álcool absoluto), deverá fazer uma diluição com água para cerca de 70%, ou seja deve diluir em água numa proporção de 7 partes de álcool para 3 de água (pode consultar a forma de preparação aqui).
- Nota: As soluções alcoólicas a 96-98% de álcool são menos eficazes e deve ser evitado o seu uso para a desinfeção de superfícies, uma vez que devido à sua rápida evaporação acabam por fixar os microorganismos às superfícies em vez de as deixar limpas. Para além disso, a penetração do álcool nas estruturas biológicas que pretendemos destruir (neste caso vírus) é mais efetiva quando este está misturado com uma pequena parte de água.
- Água oxigenada ou peróxido de hidrogénio. Esta solução é eficaz na destruição de coronavírus.
- A água-oxigenada comercial que normalmente existe em casa (3% ou 10 volumes) necessita de ser diluída para ser utilizada numa concentração igual a 0.5% (pode consultar o modo de preparação aqui)
- Despeje água-oxigenada diluída (0.5% peróxido de hidrogénio) num aspersor e pulverize a superfície a limpar.
- Deixe repousar durante pelo menos um minuto.
- Esta solução não é corrosiva. Pode usar em superfícies metálicas.
- É o ideal para entrar em ranhuras de difícil acesso.
- Pode espalhar sobre a área e não precisa de limpar.
- A água-oxigenada decompõe-se em oxigénio e água.
Atenção: apesar de haver muita informação de que o vinagre seja eficaz na desinfeção de superfícies e na destruição de coronavírus, não existem evidências científicas para tal, pelo que não devemos usar o vinagre com a finalidade de desinfetar superfícies.
Fontes
1- Kampf G., Todt D., Pfaender S. e Steinmann E., 2020. Persistence of coronaviruses on inanimate surfaces and their inactivation with biocidal agents, Journal of Hospital Infection, 104(3):246-251.
Direção Geral da Saúde. Orientação 14/2020, 21/03/2020. (DGS)- Limpeza e desinfeção de superfícies em estabelecimentos de atendimento ao público ou similares, https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/orientacoes-e-circulares-informativas/orientacao-n-0142020-de-21032020-pdf.aspx, consultada a 30 de março 2020
Centers for Disease Control and Prevention, CDC. Cleaning and Disinfection for Community Facilities. https://www.cdc.gov/coronavirus/2019-ncov/community/organizations/cleaning-disinfection.html, consultado a 30 de março 2020
European Centre for Disease Prevention and Control. Disinfection of environments in healthcare and nonhealthcare settings potentially contaminated with SARS-CoV-2. ECDC: Stockholm; 2020. https://www.ecdc.europa.eu/sites/default/files/documents/Environmental-persistence-of-SARS_CoV_2-virus-Options-for-cleaning2020-03-26_0.pdf, consultado a 30 de março 2020
Autoria
Documento elaborado pelos seguintes membros da Comissão de Saúde Ocupacional, Biossegurança e Qualidade (CoSOBQ) do IHMT/NOVA: Cláudia Conceição; Dinora Lopes; Jorge Ramos; José Manuel Cristóvão; Maria Luísa Vieira; Marta Pingarilho; Pedro Ferreira; Ricardo Parreira.