A diretora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, Matshidiso Moeti, recebeu a 5 de março o doutoramento honoris causa pela Universidade NOVA de Lisboa e foi homenageada numa sessão científica que decorreu no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).
A ministra da Saúde de Portugal, Marta Temido, presente na cerimónia, afirmou ser uma “grande honra e satisfação” participar no ato de homenagem” à primeira mulher a liderar a OMS África. “Com uma carreira de 40 anos dedicada à saúde pública, a Drª Moeti testemunhou a transformação dos grandes desafios da saúde global nas últimas décadas, a sua luta contra as iniquidades em saúde é um exemplo inspirador que nos motiva a todos e que justifica a homenagem que hoje lhe prestamos”, considerou.
A responsável governamental elogiou o papel que Matshidiso Moeti tem desempenhado no continente africano, contribuindo para “aumentar o acesso à terapia antirretroviral a milhões de pessoas que vivem com HIV”.
Marta Temido realçou também as fortes parcerias estratégicas que têm sido desenvolvidas pela OMS África. Neste âmbito, o IHMT é um exemplo dos laços fortes que Portugal tem com os países africanos lusófonos. O papel do instituto centenário foi sublinhado nas intervenções do Reitor da Universidade Nova de Lisboa, João Sàágua, do diretor do IHMT, Filomeno Fortes e do subdiretor Miguel Viveiros. Na sua intervenção, este último realçou a importância da intervenção da ciência para responder aos desafios mundiais. “O IHMT quer ser parte da solução, providenciar mais e melhor treino avançado aos alunos de graduação dos programas apoiados pelo Centro Ciência LP – Centro Internacional para a Formação Avançada em Ciências Fundamentais de Cientistas oriundos dos Países de Língua Portuguesa”.
O professor Miguel Viveiros mostrou também preocupação com os problemas que estão a mudar o mundo como as alterações climáticas, os altos fluxos migratórios e de refugiados, as desigualdades sociais e económicas, as doenças emergentes e reemergentes e o mais recente surto de coronavírus. A ministra da Saúde alertou para as epidemias do século XXI e a desinformação: “Os surtos e emergências de saúde pública são cada vez mais um fenómeno global, rápido e inesperado que colocam à prova a capacidade de resposta dos sistemas de saúde”, considerou. “A nossa experiência vai aumentando, a nossa resposta vai ficando progressivamente mais rápida e ajustada, mas a intervenção enfrenta outros desafios não menos importantes: o alarme e a desinformação. Os cidadãos são hoje muito mais exigentes do que há dez ou vinte anos, mas também estão hoje muito mais expostos a informação incorreta e a pseudociência”, acrescentou.
Coronavírus em África
Numa altura em que a Organização Mundial de Saúde (OMS) pede total empenho aos governos para evitar o novo coronavírus, Matshidiso Moeti, esclareceu que está operacional um plano para a região africana, pensado para os próximos seis meses, no valor de 46 milhões de dólares, as principais ferramentas e orientações técnicas já foram partilhadas com os 47 países que integram a região africana, 45 especialistas foram destacados para 10 países prioritários e 33 países com capacidade para realizar testes laboratoriais ao novo coronavírus investigaram 300 casos suspeitos.
A diretora regional deu como exemplo o caso da Nigéria e a forma como está a combater o coronavírus 2019. As estruturas construídas nos últimos quatro anos, em que se incluiu o investimento nos cuidados primários de saúde, um dos aspetos que Matshidiso Moeti tem defendido repetidamente para a melhoria da saúde em África, permitiram como salientou o jornal The Guardian que a Nigéria não tenha entrado em pânico com o novo coronavírus.
Para a Diretora da OMS para África é necessário fortalecer as contribuições da atenção primária à saúde de modo a construir um sistema de saúde resiliente, na medida em que “os sistemas de saúde fracos” são mais vulneráveis aos choques externos. Para Matshidiso Moeti a “atenção primária à saúde é uma pedra angular para alcançar a cobertura universal de saúde”.
“Para alcançar cobertura universal saúde é necessário investir em força de trabalho capacitada”
Paulo Ferrinho, ex-diretor do IHMT, padrinho da laureada, realçou que “para se alcançar uma cobertura universal em saúde é necessário investir numa força de trabalho capacitada, qualificada e motivada”, salientando que em nenhum outro continente a situação da força de trabalho em saúde é tão frágil como em África. “Para alcançar a cobertura universal até 2030, os países precisam de desenvolver políticas efetivas que otimizem o fornecimento de recursos humanos, bem como apoiar ou fortalecer o seu recrutamento, fixação, retenção e desempenho”, defendeu.
Novo desafio para a OMS África
Na sessão científica de homenagem a Matshidiso Moeti, o professor Jorge Simões apresentou o trabalho que tem sido desenvolvido pelo IHMT, membro da rede Health Systems and Policy Monitor, em colaboração com o Observatório Europeu de Sistemas e Políticas de Saúde, com o objetivo de contribuir para a análise dos sistemas e políticas de saúde, permitindo comparar indicadores de Portugal com outros países do mundo. O professor de Saúde Pública e Internacional do IHMT realçou ainda que temos um novo desafio para a OMS África: “É necessário adaptar o modelo de análise e sistema de políticas de saúde para os países africanos que o pretendam. Este desafio já começou a ser colocado em prática em países como o Senegal, Nigéria, Ruanda, Etiópia e Quénia.”
Na cerimónia, foram também entregues os diplomas das Bolsas de Estudo por Mérito à professora Inês Fronteira em representação de Filipa Mendes Oliveira, do Mestrado em Saúde Pública e Desenvolvimento (2015/16) e a Anabela Malho Guedes, do Mestrado em Estatística para a Saúde (2016/17).