O diretor e o subdiretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, da Universidade Nova de Lisboa, Filomeno Fortes e Miguel Viveiros, participaram, no dia 2 de julho, no ciclo de webinares lusofónos “O Livro Branco Pós Covid 19” para refletir sobre o tema «Que olhar teremos sobre a medicina e a Investigação científica nos países lusófonos, pós-covid 19?» ASSISTA AQUI
O diretor Filomeno Fortes avaliou, face à pandemia, as reações e soluções encontradas por Portugal e pelos países de expressão portuguesa. De acordo com o especialista, o contexto geográfico, demográfico, tecnológico, comportamental e cultural, entre outros, determina fortemente as reações à Covid-19. No que respeita, por exemplo, ao contexto geográfico, o epicentro da doença passou da China para a Itália, o que foi um fator fundamental para a tomada de decisões nos Países Europeus.
Já no que se refere ao contexto demográfico, a Europa tem uma população mais idosa, com características de resposta imunológica à doença diferente das populações mais jovens do continente africano, ao mesmo tempo que no contexto epidemiológico as doenças que predominam no continente africano também são diferentes das que afetam a Europa.
O contexto económico também não foi esquecido por Filomeno Fortes, o turismo é fundamental para o desenvolvimento económico na Europa, mas para os países africanos, a questão não é assim tão relevante. Em Angola, Moçambique, São Tomé, Cabo Verde, a prioridade foi o encerramento das fronteiras e a “mobilização da comunidade para que a doença não tivesse uma expansão rápida e ao mesmo tempo a criação de condições de apoio, ao contrário naturalmente do que foi a reação a nível de Portugal e dos outros países”.
Portugal beneficiou da vantagem tempo
O subdiretor do IHMT NOVA Miguel Viveiros considera que existiu “uma grande vantagem para Portugal: o tempo. Nós tivemos a primeira importação do vírus depois de outros países europeus e isso permitiu-nos assistir ao que se estava a passar” em Espanha, Itália ou França. Portanto, houve oportunidade para uma melhor preparação e reação, mas a resposta teve de ser acelerada dado o ritmo de importação e transmissão em Portugal.
Relativamente aos países de expressão portuguesa houve um atraso na chegada e transmissão do vírus, salienta Miguel Viveiros, “o que de alguma forma também permitiu à estrutura de saúde e governos” iniciarem “os preparativos para a resposta à pandemia.”
Miguel Viveiros referiu também os princípios básicos para combater a pandemia: testar o mais rapidamente possível, isolar os casos positivos o mais rapidamente possível e por fim tratar o melhor possível, acompanhando as cadeias de transmissão para quebrá-las o mais rapidamente possível. “Mas só podemos fazer isto sabendo quem está infetado” e acompanhar os restantes no isolamento profilático, evitando a transmissão. Miguel Viveiros ressaltou a necessidade imperiosa de “identificar laboratorialmente os casos”, sublinhando o papel muito importante das universidades e dos laboratórios nesta resposta.
“Tentávamos manter os casos detetados longe dos hospitais, enquanto não atingiam a severidade que exigia o internamento hospitalar, portanto minimizámos a transmissão hospitalar, e por fim isso deu-nos tempo para que o sistema de saúde preparasse camas, preparasse hospitais de campanha, preparasse unidades de cuidados intensivos, e preparasse ventiladores”, afirmou.
Voltar à normalidade e as respostas para uma nova realidade
O subdiretor falou igualmente da realidade que estamos atualmente a viver: Em Portugal estamos a sofrer as consequências do pós-desconfinamento, “de tentarmos voltar a uma normalidade que implica mais transmissão, que implica mais infeção, e o sistema de saúde tem um novo desafio: responder a esta nova realidade”.
Para combater esta pandemia terá de haver uma resposta “consertada, a melhor possível, entre sociedade civil, sistema político e sistema de saúde”.
No que respeita à pergunta que inspirou este webinar «Que olhar teremos sobre a medicina e a Investigação científica nos países lusófonos, pós-covid 19?» segundo Miguel Viveiros tem que se investir na área da Investigação Aplicada, e em “todas as áreas do saber”, apostando na formação graduada. Já Filomeno Fortes admite: “Estou bastante preocupado em termos de futuro” com “os efeitos indiretos que esta pandemia vai provocar”, nomeadamente na mortalidade materna e infantil dos países de expressão portuguesa. “Temos de pensar numa medicina muito mais virada para a saúde materna-infantil”, considerou.
A moderação deste Webinar esteve a cargo de Noelma D’Abreu, PCE da SAESP/Academia BAI e membro do conselho consultivo do IHMT-NOVA. O encontro online foi organizado pela Academia BAI em parceria com o Instituto Pedro Pires e o CEJES Centro de Estudos de Ciências Jurídico-Económicas e Sociais da Universidade Agostinho Neto.
A iniciativa tem como objetivo contribuir para a reflexão sobre a necessidade urgente de mudar, repensar modelos de gestão e estabelecer prioridades para a vida de cada um de nós e dos países para uma vida pós Covid-19 numa África de expressão portuguesa.