Quem o afirmou foi Magda Robalo, professora adjunta de Saúde Pública da Griffith University, na Austrália, durante o 4º webinar IHMT-NOVA/APAH, subordinado ao tema “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona”, que decorreu no dia 29 de maio. No âmbito da sessão, a professora abordou a situação epidemiológica da COVID-19 na Guiné-Bissau e os principais desafios na gestão da pandemia.
“A Guiné-Bissau é também o 12º país da Costa Ocidental Africana mais afectado pela pandemia”
Sobre a situação epidemiológica da pandemia na Guiné-Bissau, destacou que o país apresenta 1256 casos de infecção por COVID-19, um número que é superior à soma do total de casos de Cabo Verde, Angola, Moçambique e São Tomé e Princípe”, sendo também “o 12º país da Costa Ocidental Africana mais afectado pela pandemia”.
Os primeiros casos importados de infecção no país foram detectados a 25 de março, contudo, “foi a 10 de março que surgiram os casos que despoletaram a pandemia na Guiné-Bissau, com a visita de um empresário que estabeleceu contacto com vários empresários e individualidades guineenses”. A partir da primeira morte por COVID-19, a 26 de abril, assistiu-se a uma evolução exponencial do número de casos de infecção, “passando de 53 casos para 1000 casos no espaço de 3 semanas”, referiu a ex-Ministra da Saúde da Guiné-Bissau.
De acordo com Magda Robalo, as mortes registadas pela COVID-19 atingiram vários membros do governo, polícia e também profissionais de saúde e pessoal administrativo do Sistema de Saúde, “numa explosão de casos que estamos hoje a tentar gerir”.
“Teriamos conseguido gerir esta subida exponencial se as medidas de isolamento tivessem sido mais drásticas e melhor implementadas”
Perante os vários desafios no combate à pandemia, a especialista destacou a gestão clínica como um grande desafio na Guiné-Bissau, em particular “a necessidade de recursos humanos e tecnológicos que permitam dar uma resposta adequada à gravidade dos casos, e a fraca capacidade de seguimento dos casos suspeitos”, referindo também a existência de fragilidades na gestão da vigilância epidemiológica, sublinhando a “parca utilização de factos e evidência para sustentar e guiar as estratégias de resposta”.
Por outro lado, a também presidente do Comité de Ética e Governação do Fundo Global Contra as Epidemias das Nações Unidas advertiu que “com a diminuição de acesso aos cuidados de saúde para outras patologias, a Guiné-Bissau corre o risco de ter um excesso de mortalidade causado por outras doenças, nomeadamente por VIH, tuberculose e malária que têm elevada prevalência no país”.
Em adição ao aumento das desiguladades sociais, ao maior empobrecimento da população e a adesão instável às medidas de confinamento que se tem observado na Guiné-Bissau, “esta crise sanitária aconteceu a meio de uma crise política, tornando a nossa capacidade de resposta ainda mais fraca”, concluiu Magda Robalo.
Assista à discussão destes tópicos e saiba mais sobre o ponto de situação epidemiológico e as medidas implementadas na Guiné-Bissau no video do webinar.
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