As declarações são do chefe do Departamento de Cuidados de Saúde Primários do Ministério da Saúde de Moçambique no decorrer da sua participação no webinar dedicado ao “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona”. Neste encontro virtual, Eusébio Chaquisse abordou os quarto pontos mais importantes sobre a epidemiologia e a resposta à pandemia da COVID-19 em Moçambique.
“A nossa resposta foi inciada precocemente em relação àquilo que foi o desenvolvimento da pandemia a nível global”
Recordando a experiência de Moçambique com catástrofes naturais, o médico especialista em Saúde Pública afirmou que o combate à pandemia começou com “a elaboração precoce de um plano de resposta à COVID-19”, no momento em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a infeção por SARS-CoV-2, salientando que “o país iniciou a preparação de algumas medidas quando começaram a surgir informações sobre a COVID-19 na China”.
A vigilância epidemiológica teve início a 23 de março com a notificação do primeiro caso de COVID-19 em Maputo – um cidadão moçambicano que terá regressado do estrangeiro. Como explicou o professor, Moçambique, que registava casos esporádicos de COVID-19, “teve um aumento do número de casos de contágio na 14ª semana epidemiológica com um surto no acampamento em Afungi, na Província de Cabo Delgado”, sendo que entre as semanas epidemiológicas 18 e 19 “começou a transmissão por agrupamento de casos, observando-se maior número de casos em comparação com os restantes períodos epidemiológicos”.
Atualmente, Moçambique tem 233 casos de COVID-19 e quase todas as regiões do país apresentam casos de contágio, sendo as regiões mais afectadas a Província de Cabo Delgado (norte), a Cidade de Maputo (sul), a Província de Sofala (centro) e a Província de Nampula (norte).
“A gestão da pandemia teve uma forte liderança política com uma participação muito positiva do setor privado, do setor público e dos parceiros”
No âmbito da estratégia de combate à pandemia implementada por Morçambique, Eusébio Chaquisse destacou como um factor-chave na gestão da pandemia “a forte liderança política, com envolvimento de secretários de estado, governantes e o Presidente, sendo também muito positiva a participação do setor privado, do setor público e dos parceiros”, acrescentou.
Das medidas implementadas o professor deu especial destaque ao desenho do Plano Nacional de Resposta baseado em sete pilares principais da resposta à COVID-19 recomendados pela OMS: vigilância epidemiológica; laboratório; gestão de casos; água, saneamento e higiene; advocacia e comunicação social; medicamentos, equipamentos e artigos medicos; e recursos humanos, sublinhando que “foi importante trabalhar nestas áreas para que aquilo que é o desenvolvimento da resposta ao nível do país fosse efectivo”.
“É necessário rever as medidas tomadas no sentido de preservar a vida e proteger a população”
Moçambique está atualmente no nível 3; não tendo entrado em lockdown completo, estabeleceu algumas restrições ao nível das fronteiras, com circulação exclusiva de mercadorias e produtos essenciais para a vida e economia do país.
As condições socieoeconómicas da população constituem um desafio ao confinamento, o que levou as autoriddaes a rever algumas das medidas tomadas para redução do risco de contágio, como redução do número de passageiros permitidos nos transportes públicos e a utilização obrigatória de máscara. Outro desafio prende-se com a organização e preparação da entrada da população que retorna da África do Sul, e manter a segurança dos condutores de longo curso que asseguram a circulação de bens, “de modo a evitar que a partir destes, se agrave mais a situação”, concluiu.
Assista à discussão destes tópicos e saiba mais sobre o ponto de situação epidemiológico e as medidas implementadas em Moçambique, no vídeo do webinar.
Artigos relacionados:
“Guiné-Bissau é o país da África Lusófona mais afectado pela pandemia de COVID-19”
Cabo Verde: “Medidas preventivas evitaram que COVID-19 se disseminasse a todas as ilhas”