Com o primeiro caso positivo detectado na Argélia a 25 de fevereiro, o Continente Africano conta já com 125 mil casos, 3800 mortes e cerca de 50 mil casos recuperados de COVID-19. Em representação de quatro países africanos da CPLP, Elisa Gaspar, Magda Robalo, Maria da Luz Lima e Eusébio Chaquisse integraram o painel de personalidades da Saúde Pública para abordar o “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona”, tema do 4º webinar organizado pelo IHMT-NOVA/APAH. A sessão foi moderada por Francisco Pavão, membro da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, e por Elisa Gaspar, Bastonária da Ordem dos Médicos de Angola.
Ao longo de duas horas os especialistas relataram as realidades de Angola, Moçambique, Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Numa perspetiva global, os primeiros casos de COVID-19 nos países africanos lusófonos foram importados de indivíduos que estavam na Europa e deram entrada nesses territórios, transmitindo a doença a nível local. Contrariamente ao que se observou nos países euopeus, “a COVID-19 atingiu maioritariamente a população mais jovem”, entre os 20 e os 39 anos de idade.
De acordo com Elisa Gaspar, Bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, a pandemia por COVID-19 veio mostrar “uma grande fragilidade nos sistemas de saúde de quase todo o mundo”, porque “nenhum país nem nós, como pessoas e como profissionais de saúde, estávamos preparados para a pandemia”. Leia também a posição da bastonária sobre o papel dos profissionais de saúde no combate à pandemia.
Os especialistas sublinharam o impacto do mercado paralelo em África na tomada de decisão e na implementação das medidas de confinamento. “Todos os países Africanos têm muito mercado informal, as pessoas vivem na rua vendendo hoje para comer hoje mesmo, e estas medidas de confinamento nos primeiros 15 dias não surtiram efeito” afirmou Elisa Gaspar, acrescentando Eusébio Chaquisse, chefe do Departamento de Cuidados de Saúde Primários do Ministério da Saúde de Moçambique a necessidade de “jogar com aquilo que são as limitações do próprio sistema, mas também a sobrevivência das pessoas”. Conheça a contexto em que os moçambicanos estão a viver a pandemia pela voz de Eusébio Chaquisse.
A presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública de Cabo Verde, Maria da Luz Lima, foi categórica na necessidade de investir na prevenção, comunicação de risco e envolvimento comunitário, sendo que “na Cidade da Praia estamos a intervir nas comunidades, devidamente protegidos, no sentido de fazer esse apelo porta-a-porta”. A responsável sublinhou também que as “medidas preventivas evitaram a COVID-19 se disseminasse a todas as ilhas”.
Já Magda Robalo, atual presidente do Comité de Ética e Governação do Fundo Global Contra as Epidemias das Nações Unidas, alerta para o perígo de aumento de outras patologias com elevada mortalidade nos países africanos, salientando a necessidade de “organizar rapidamente a triagem para melhor atender doentes com outras patologias; caso contrário a mortalidade por doenças não-COVID vai ser muito maior” afirmou. A Guiné-Bissau é o país da África Lusófona mais afetado pela COVID-19″, acrescentou.
Os especialistas reforçam a importância do investimento dos países africanos lusófonos na investigação científica, sendo importante o apoio dos países de língua oficial portuguesa “para que haja um sistema de investigação a nível dos nossos países e com as parcerias que podemos captar de outros continentes”, concluiu Elisa Gaspar.
Saiba mais sobre a resposta de cada país à pandemia e assista à discussão destes tópicos no VÍDEO DO WEBINAR.
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