A afirmação é do professor do IHMT-NOVA Ricardo Parreira, que abordou as questões de biossegurança no contexto laboratorial durante o 1º webinar no âmbito do Projeto “IANDA Guiné Saúde”. Dedicado à “Biossegurança na era COVID-19”, o encontro virtual que decorreu no dia 27 de novembro foi moderado por Alexandre Lourenço, presidente da APAH, e contou também com a participação de Magda Robalo, alta comissária para o combate à Covid-19 da República da Guiné Bissau, Filomena Pereira, subdiretora do IHMT-NOVA, e a professora do IHMT-NOVA Cláudia Conceição, bem como da Diretora dos Serviços de Interesse Comum, Dinora Lopes.
De acordo com o especialista, “a biossegurança exige o conhecimento prévio de características específicas dos microorganismos que vamos manipular”, e envolve categorias de risco definidas com base num conjunto de parâmetros, tais como “o número de infeções laboratoriais registadas, dose infeciosa, taxa de mortalidade, potencial à exposição, possibilidade de transmissão zoonótica, existência e eficácia de medidas profiláticas e/ou terapêuticas”, enumerou.
No caso do trabalho laboratorial com o vírus SARS-CoV-2, “houve necessidade de tomar decisões logo desde o início e sem se conhecer muitos destes parâmetros”. Assim, por “comparação com outro vírus semelhante que gerou uma epidemia que infetou alguns milhares de pessoas entre 2002-2003: o SARS-CoV”, decidiram-se aspetos relativamente “a estabilidade do agente infecioso, que dadas as características da partícula viral são suscetíveis a vários componentes químicos que atualmente sabemos que podem ser utilizados na desinfeção”, existindo também fatores físicos, como exposição a ultravioletas ou temperatura “que podemos utilizar para inibir a infeciosidade viral”, acrescentou o especialista em virologia.
Também no laboratório as gotículas e aerossóis constituem um problema, principalmente “nos casos em que as manipulações impliquem uma concentração de vírus mais elevada”, levando a que “na ocorrência de contaminação por salpicos, a superfície afetada seja prontamente descontaminada”.
Como explicou Ricardo Parreira, as categorias de risco “vão definir as condições no laboratório que devem ser utilizadas para fazer determinado procedimento” e são definidas de acordo com “o tipo de doença que causa, a existência ou não de profilaxia e de terapêutica, o risco para quem manipula e o risco para a comunidade”.
Com 4 categorias de risco, o especialista explicou que “ao caminhar do risco 1 para o risco 4 estamos a tratar de microrganismos que causam cada vez mais doença ou doença cada vez mais grave, esses microrganismos podem ser transmitidos cada vez mais facilmente entre indivíduos e muito provavelmente por via aérea, sendo que também aumenta o risco para o operador e o risco para a comunidade”.
O vírus SARS-CoV-2 é considerado um vírus do grupo de risco 3 uma vez que, embora este vírus seja facilmente transmitido, não haver nenhuma medida profilática eficaz, não haver uma vacina ou terapêutica eficazes no combate à COVID-19, “a taxa de mortalidade estimada não é comparável àquela que caracteriza os organismos do grupo de risco 4, existem fatores como a comorbilidade e a idade avançada que estão associados à maior mortalidade”, acrescendo ainda o facto de que “a maior parte dos indivíduos infetados estão assintomáticos, e entre os restantes a maioria desenvolve doença ligeira”.
Neste sentido, “o vírus SARS-CoV-2 deve ser manuseado em laboratórios BSL-2 e BSL-3”. De acordo com o nível de contenção assim são as características das infraestruturas laboratoriais, o tipo de equipamento e práticas laboratoriais a desenvolver, assim como o equipamento de proteção individual a utilizar.
Como características gerais, um laboratório BSL-2 é um espaço “com acesso restrito, onde deve ser obrigatória a colocação de um símbolo de risco biológico à entrada, todas as manipulações que geram aerossóis são executadas em câmaras de segurança biológica do tipo 2, existindo centrifugadoras com potes fechados que permitem minimizar a dispersão de partículas aerossóis”.
Já os laboratórios BSL-3 são mais complexos, “com acesso permitido somente a quem tem formação técnica para trabalhar em BSL-3”. Nestes laboratórios “todos os procedimentos são realizados dentro de câmaras de segurança biológica”, e para conferir maior grau de contenção, as instalações têm “pressão negativa face ao exterior” e possuem “um sistema de eliminação de resíduos por autoclavagem”. A entrada neste tipo de laboratório faz-se através de “um sistema de antecâmaras e exige a utilização de equipamento de proteção individual dedicado ao trabalho realizado”.
O especialista terminou sublinhando que, em virtude de se trabalhar com microorganismos que podem ser transmitidos por via aérea, “é dada especial importância a equipamento de proteção individual que limita a infeção através da inalação de aerossóis”, devendo as instalações BSL-2 ser utilizadas “para diagnóstico e trabalho de rotina com produtos biológicos que não implique fazer propagação de vírus”, enquanto que nas instalações BSL-3 são realizados “procedimentos impliquem a propagação de vírus ou requeiram uma suspensão viral enriquecida”, concluiu.
Saiba mais sobre este tema e assista à discussão no vídeo do webinar.
Apresentação do professor Ricardo Parreira
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