As palavras são de Fernanda Dias, professora catedrática da Universidade Agostinho Neto, no contexto do webinar subordinado ao tema “Opções terapêuticas no tratamento da COVID-19”, o 6º e último webinar da 1ª série de webinars promovida pelo IHMT-NOVA/APAH que decorreu na tarde do dia 12 de junho. Moderado por Fernando Cupertino, Coordenador do Grupo de Observadores da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), Brasil, e pelo infeciologista Jorge Atouguia, o encontro online contou ainda com a presença das oradoras convidadas Isabel Aldir e Joana Cortez.
Neste encontro virtual, as palestrantes abordaram as opções terapêuticas e aquilo que tem sido o algoritmo de tratamento dos doentes infectados com SARS-CoV-2 – o agente etiológico da COVID-19 – abordando também as questões e dificuldades específicas existentes em Portugal, Angola e na Guiné-Bissau.
A iniciar a sessão, Isabel Aldir, diretora clínica do Hospital de Egas Moniz do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, em Portugal, afirmou que “até ao momento não existe nenhum medicamento específico ou combinação terapêutica aprovada contra o coronavírus, e o tratamento principal é o de suporte do doente”, salientando durante a sua exposição que “os medicamentos direccionados para o SARS-CoV-2 são apenas prescritos em ambiente hospitalar, no contexto de ensaios clínicos, naqueles doentes mais graves que necessitam de internamento”, enquanto que os restantes doentes são tratados no domicílio para a gestão da sintomatologia.
Abordando esta matéria no contexto da pandemia em Angola, a professora catedrática da Universidade Agostinho Neto, em Angola, Fernanda Dias, referiu que no seu país, e de acordo com as recomendações iniciais da Organização Mundial da Saúde (OMS), “todos os indivíduos testados positivos para COVID-19 beneficiavam do tratamento com hidroxicloroquina, reservando os antivíricos para os doentes com quadros mais graves com internamento em unidades de cuidados intensivos”. Porém, face aos inúmeros ensaios clínicos que questionam a utilização de hidroxiquinolona, estão em curso várias investigações para “nos dar evidência das melhores terapêuticas para aconselhar os diferentes níveis de doentes que chegam às nossas unidades sanitárias”, sublinhou.
No que diz respeito às opções terapêuticas disponíveis na Guiné-Bissau, Joana Cortez, especialista de gestão clínica da OMS Guiné-Bissau, informou que as orientações internacionais da OMS para o tratamento clínico do doente COVID são muito claras e atribuiem “elevada importância ao papel da oxigenoterapia, ao tratamento de suporte associado a uma boa gestão do tratamento das comorbilidades e, acima de tudo, ao reconhecimento precoce da doença grave, das suas complicações, com a gestão apropriada dos sintomas”. Não obstante, realça as dificuldades sentidas com a escassez de “equipamento/material e consumíveis que são necessários para um tratamento adequado do doente com COVID-19”, acrescendo ainda falta de medicamentos para o tratamento das comorbilidades apresentadas pelos doentes.
As especialistas reiteram e sublinham a necessidade de ensaios clínicos nesta fase de pandemia e a importância de “participar em ensaios multicêntricos e internacionais para reunir um número robusto e dados que nos permitam tirar conclusões em relação à eficácia e à segurança dos medicamentos” no tratamento da COVID-19, afirmou Isabel Aldir. Neste sentido, Joana Cortez e Fernanda Dias apontam o desenvolvimento do ensaio clínico Solidarity pela OMS, e os projetos de investigação com o IHMT no âmbito do estudo da cinética do vírus e a sua sequenciação.
Refletindo sobre o futuro da terapêutica do SARS-CoV-2, sublinhou-se a importância de reforçar as principais fragilidades existentes nos países mais desfavorecidos e a necessidade de intervir na atenuação das desigualdades, uma preocupação que, na opinião do moderador Fernando Cupertino, “tem que ser uma constante das nossas vidas profissionais em Saúde Pública e pessoais a partir de agora”, finalizou.
Saiba mais sobre a abordagem terapêutica em Portugal, Angola e na Guiné-Bissau e assista à discussão destes tópicos no vídeo do webinar.
Consulte a apresentação de Fernanda Dias, professora catedrática da Universidade Agostinho Neto