As palavras são da presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública de Cabo Verde, Maria da Luz Lima, que participou no webinar dedicado ao “Aparecimento e desenvolvimento da pandemia na África Lusófona”, onde fez uma análise da situação epidemiológica da COVID-19 em Cabo Verde, abordando as medidas de saúde pública implementadas e os principais desafios sentidos na gestão da pandemia.
“Apenas 3 das 9 ilhas habitadas de Cabo Verde foram afectadas pela pandemia”
De acordo com a médica especialista em Saúde Pública, “o primeiro caso importado de COVID-19 tratou-se de um turista inglês, identificado a 19 de fevereiro, tendo ocorrido o primeiro caso de transmissão local a 26 de março (esposa do turista), que posteriormente desencadeou a transmissão comunitária e, até 26 de maio, afectou outras ilhas”. Até à data, Cabo Verde tem um total de 390 casos de contágio, 155 casos recuperados, 4 óbitos e 229 casos ativos de Covid-19.
Ao contrário do que é observado nos países europeus, os grupos etários mais afectados pela pandemia são jovens entre os 20-39 anos de idade, “o que corresponde a cerca de 50% do total de casos positivos”.
Outro facto importante a realçar na epidemiologia da doença em Cabo Verde diz respeito à transmissão entre ilhas, afirmando a especialista que “apesar do intenso movimento que se verifica entre as ilhas, apenas 3 das 9 ilhas habitadas foram afectadas pela pandemia”. Na sua visão, “a célere implementação de medidas preventivas evitaram a disseminação da doença”, que se encontra concentrada na Ilha da Boavista, Ilha de São Vicente e Ilha de Santiago, cujos surtos de COVID-19 apresentam características particulares.
“Isolamento de casos suspeitos, quarentena obrigatória de casos confirmados e rastreio dos contactos são medidas que têm sido muito eficientes no controlo da pandemia.”
Referindo-se às medidas de Saúde Pública implementadas por Cabo Verde, a oradora destacou a realização de teste de diagnóstico “a todos os contactos que surgem na sequência da avaliação epidemiológica dos casos confirmados”, medida esta que “permitiu detectar 77% dos casos de COVID-19, maioritariamente assintomáticos”, acrescentou.
Maria da Luz Lima realçou também o “controlo nas portas de entrada no país, isolamento de casos suspeitos e isolamento institucional de todos os casos confirmados, sendo o isolamento institucional uma medida financeiramente suportada pelo Governo”.
Salientou ainda a “aposta muito forte na sensibilização da população”, através do plano de comunicação de risco e envolvimento comunitário para a prevenção e resposta à pandemia COVID-19, que teve início logo após a declaração do Estado de Emergência de Saúde Pública pela OMS, e a criação de uma Linha verde – 800 11 12 – para informações gerais sobre a doença, “que continua ativa”.
A especialista considera que o controlo da pandemia nas Ilhas sem casos e o reforço da intervenção multisetorial “foram muito importantes para o controlo da pandemia”, salientando também que “a ativação do Centro Nacional de Operações de Emergência em Saúde Pública (CNOESP) veio melhorar diariamente a capacidade laboratorial de diagnóstico de COVID-19”.
“É importante refletir como manter os bons resultados após o desconfinamento”
Os maiores constrangimentos e desafios que o país enfrenta nesta fase prendem-se, por um lado, com o encerramento dos aeroportos, que influencia tanto a principal fonte económica do país – o turismo – quanto a disponibilidade de consumíveis, reagentes laboratoriais e equipamentos de proteção individual, e a sua distribuição entre ilhas.
Por outro lado, “a insuficiência de recursos humanos para a gestão e investigação de casos e a limitação de recursos financeiros são constrangimentos estruturais pré-existentes que dificultam o controlo da pandemia”, concluiu Maria de Luz Lima.
Assista à discussão destes tópicos e saiba mais sobre a situação epidemiológica de cada ilha e as medidas implementadas por Cabo Verde, no vídeo do webinar.
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